sexta-feira, 8 de março de 2019

REFLEXÃO: Fronteiras do Pensamento


Fonte de inspiração do texto: Entrevista com Zygmunt Bauman ( https://youtu.be/POZcBNo-D4A )


Estamos vivendo na era da informação, aonde os impactos exercidos pelas inovações tecnológicas são sentidos em todas as camadas sociais de diversas formas. É o mundo pós-moderno, com suas complexidades e desafios que quer queiramos ou não somos postos diante dos mesmos para enfrenta-los ou nos darmos por vencidos.

Nota-se que a condição social do mundo pós-moderno está fragmentada, o distanciamento entre as pessoas é real, é possível estar em meio a uma multidão e ainda assim sentir-se sozinho, sem afeto, sem atenção, sem cuidado e amparo em suas diversas formas. O projeto de vida que as pessoas estabelecem para si mesmos tem como característica preponderante o individualismo e o curto prazo; é raro encontrar alguém que esteja pensando a médio e longo prazo ou talvez seja raro encontrar alguém pensando. Me parece que a ideia de projeto de vida é algo ultrapassado e incomum para os dias de hoje, esta é a identidade da sociedade atual, apego ao imediatismo, superficialismo e individualismo; pensar em responsabilidade é a última coisa que alguém gostaria de assumir na era da informação, no mundo pós-moderno.

As constantes mudanças em que a realidade social e natural encontra-se é fruto de um conjunto de coisas, tais como, o advento da tecnologia, a não importância dada a preservação ambiental, assim como, a falta de interesse pelo que é nobre em um estilo de vida e forma de pensar. Desta forma a ordem social é direcionada a caminhos tortuosos e sem volta, talvez seja possível reconstruir, mas deixar de colher os frutos de algo que foi plantado seria aqui pregar uma utopia, a ordem natural das coisas é lógica e fria, dificilmente se negocia.

A convivência humana chegou em alguns casos ao seu limite, guerras e mais guerras bélicas foram e ainda estão sendo travadas, mas talvez a maior tragédia que a convivência humana tenha passado ou está passando é o abandono da concepção de que somos seres gregários e que dependemos uns dos outros naquilo em que a sociedade se caracteriza como sociedade, ou seja, nos relacionamentos e convivência civilizada. Notem que o mundo hoje é um único país, a globalização derrubou uma série de barreiras e naturalmente as distancias entre as nações. Consequentemente as pessoas não sentem saudade como antes sentiam, basta uma ideia ou uma iniciativa e lá está uma possibilidade aberta pela tecnologia, enfim, é “possível estar perto mesmo estando a quilômetros de distância”.

Pensar a longo prazo me parece ser uma condição não perene para os dias de hoje, este aspecto é uma contradição a existência humana uma vez que não fomos criados para amanhã ou daqui a um mês como ocorre com alguns insetos deixar de existir. Diante disso pensar nas questões ambientais como condição sine qua non é um aspecto preponderante para a vida humana; plantar o amanhã a luz do que se vive ambientalmente hoje é viver de forma inteligente e até mesmo estratégica, pois como humanos que somos é evidente que dependemos que o mundo natural esteja funcionando em sua plenitude. É importante salientar a luz do pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant que a natureza é regida por leis que naturalmente atuam agindo e reagindo de forma proporcional à como é tratada.

O desenvolvimento tecnológico tem sido um elemento estratégico para a humanidade como um todo, os avanços na medicina, engenharia, física, dentre outras áreas nunca foram tão longe como na era da informação. Ao mesmo tempo as relações sociais desta mesma era sofreu alguns impactos que me parece ter sido um viés contrário aos benefícios das áreas mencionadas acima, ou seja, as relações humanas tornaram-se mais evasivas e superficiais, o mau uso das ferramentas tecnológicas não respeitam os limites morais e éticos e com isso a própria democracia é afetada ao ponto de termos vidas sendo ceifadas por conta de boatos infundados que surgiram no seio de uma comunidade. Posições políticas são desrespeitadas, famílias são postas umas contra as outras e países são divididos dentro do seu próprio território. Aonde estamos e aonde iremos parar no tocante a democracia e ao convívio civilizado?

O poder e a política parecem não mais dialogar, aonde há excesso de poder a política fica em segundo ou terceiro plano; aonde há uma política de manutenção de poder não há gestão e com isso a sociedade sofre as consequências em suas realidades mais sensíveis como a falta de saúde, educação, segurança e emprego, que, por conseguinte desaguam em forma de crise no contexto de bem-estar da nação. Talvez seja possível dizer que a democracia global esteja em crise, em decadência e me parece que a solução não passa por uma proposta global, engessada, formulada em gabinetes sem considerar as subjacências de cada realidade social em seu contexto cultural e político. A história deixa claro que democracia se adquire ao longo do tempo e o amadurecimento político democrático é fruto de um exercício coletivo, harmônico, ético e digno.

A autonomia individual é um elemento gerador de dignidade e equidade, os indivíduos que são indivíduos somente por viverem em comunidade não podem deixar de viver a luz da cooperação mutua necessária para combater o totalitarismo seja político ou social. Nunca se fez tão necessário alimentar-se do que edifica, do que nos lança para o futuro, para a frente, do que nos auxilia na colheita de longo prazo no campo social, físico e mental. As mídias sociais, a TV e outras ferramentas do entretenimento não são garantias nem muito menos alimentos sólidos capazes de nos nutrir e evidenciar maturidade e segurança política e democrática.

Qual a condição global do indivíduo hoje? Certamente não é de bem-estar. Não seria, sendo que fica cada dia mais evidente que a proposta parte inicialmente da estabilização do mercado para depois se chegar ao indivíduo, veja que por esta ótica o bem-estar individual já está em segundo plano, essa proposta política e econômica é talvez fruto até mesmo das relações que estão sendo construídas por meio das redes sociais, ou seja, relações sem vínculos duradouros e que facilmente podem ser quebradas ou desfeitas na medida em que não mais tenho nenhum interesse em comum com os que do outro lado estão; quero dizer, enquanto dependo de você haverá reciprocidade, no entanto ao atingir meu propósito digo-lhe muito obrigado ou talvez nem me seja necessário despedir-se, simplesmente rompo com a relação com um simples clique em um botão virtual.

Liberdade, segurança, felicidade, dignidade, são palavras e qualidades que estão longe de serem uma realidade para o individual da pós-modernidade. Primeiro vale ressaltar a grande ambivalência existente entre a liberdade e a segurança, ambas estão intimamente ligadas, pois na medida em que priorizo obter a liberdade em maior grau, se faz necessário abrir mão de parte da minha liberdade e vice-versa. No tocante a felicidade, caberia perguntar o que de fato me faz feliz ou o que é felicidade, pois acredito não haver uma receita que seja padronizada para todos os seres humanos, portanto é possível que seja mais prático estabelecer uma condição social por meio da política em que a dignidade geral da nação seja mantida intacta e assim deixar que cada um estabeleça sua condição de felicidade.

Considerando que não existe uma solução perfeita para nada neste mundo desajustado, aonde as leis naturais agem e reagem na proporção em que são impulsionadas assim o fazer, é preciso dialogar, construir pontes ao invés de levantar muros e barreiras que impeçam o avanço da civilização, afinal de contas como disse em alguns parágrafos acima, somos um país global e o que uma comunidade sofre aqui ou ali, esse país global inteiro em algum momento sofrerá os efeitos e as reações advindas de tal fenômeno.

O destino de cada pessoa, de cada nação ou comunidade certamente passa primariamente pelo que é plantado no campo da subjetividade, quero dizer, pelo caráter. É o caráter individual que forma o pensamento coletivo por meio da influência e do exemplo, cada um determina, cria sua própria realidade em consequência de suas escolhas e projetos de vida, cada um cria sua própria felicidade, não podemos perder nossa individualidade nem muito menos acreditar que será com base na forma de viver, se vestir e falar do outro replicada a minha vida que irá estabelecer minha felicidade e condição de bem estar, há um mundo perfeito com as minhas medidas aguardando minha chegada, mas somente o alcançaremos se tomarmos os caminhos da honestidade, hombridade, respeito, ética e coletividade.

Um comentário:

  1. Olá Glauber,
    e qual o papel que desempenha o sistema capitalista nesse processo? Como falar em honestidade, hombridade, respeito, ética e coletividade quando vivemos em uma selva em que a ética do dinheiro (e consequentemente do poder) é a que prevalece? Não estou dizendo que esses princípios que vc cita não possam ou não devam ser buscados, mas precisamos trazer para o debate as leis que regem o sistema hegemônico, para podermos pensar saídas a partir das fissuras desse mesmo sistema.

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