Fonte de inspiração do texto: Entrevista com Zygmunt Bauman ( https://youtu.be/POZcBNo-D4A )
Estamos vivendo na era da informação, aonde os impactos
exercidos pelas inovações tecnológicas são sentidos em todas as camadas sociais
de diversas formas. É o mundo pós-moderno, com suas complexidades e desafios
que quer queiramos ou não somos postos diante dos mesmos para enfrenta-los ou
nos darmos por vencidos.
Nota-se que a condição social do mundo pós-moderno está
fragmentada, o distanciamento entre as pessoas é real, é possível estar em meio
a uma multidão e ainda assim sentir-se sozinho, sem afeto, sem atenção, sem
cuidado e amparo em suas diversas formas. O projeto de vida que as pessoas
estabelecem para si mesmos tem como característica preponderante o individualismo
e o curto prazo; é raro encontrar alguém que esteja pensando a médio e longo
prazo ou talvez seja raro encontrar alguém pensando. Me parece que a ideia de
projeto de vida é algo ultrapassado e incomum para os dias de hoje, esta é a
identidade da sociedade atual, apego ao imediatismo, superficialismo e individualismo;
pensar em responsabilidade é a última coisa que alguém gostaria de assumir na
era da informação, no mundo pós-moderno.
As constantes mudanças em que a realidade social e natural
encontra-se é fruto de um conjunto de coisas, tais como, o advento da
tecnologia, a não importância dada a preservação ambiental, assim como, a falta
de interesse pelo que é nobre em um estilo de vida e forma de pensar. Desta
forma a ordem social é direcionada a caminhos tortuosos e sem volta, talvez
seja possível reconstruir, mas deixar de colher os frutos de algo que foi
plantado seria aqui pregar uma utopia, a ordem natural das coisas é lógica e
fria, dificilmente se negocia.
A convivência humana chegou em alguns casos ao seu limite,
guerras e mais guerras bélicas foram e ainda estão sendo travadas, mas talvez a
maior tragédia que a convivência humana tenha passado ou está passando é o
abandono da concepção de que somos seres gregários e que dependemos uns dos
outros naquilo em que a sociedade se caracteriza como sociedade, ou seja, nos
relacionamentos e convivência civilizada. Notem que o mundo hoje é um único
país, a globalização derrubou uma série de barreiras e naturalmente as
distancias entre as nações. Consequentemente as pessoas não sentem saudade como
antes sentiam, basta uma ideia ou uma iniciativa e lá está uma possibilidade
aberta pela tecnologia, enfim, é “possível estar perto mesmo estando a quilômetros
de distância”.
Pensar a longo prazo me parece ser uma condição não perene
para os dias de hoje, este aspecto é uma contradição a existência humana uma
vez que não fomos criados para amanhã ou daqui a um mês como ocorre com alguns insetos
deixar de existir. Diante disso pensar nas questões ambientais como condição sine
qua non é um aspecto preponderante para a vida humana; plantar o amanhã a luz
do que se vive ambientalmente hoje é viver de forma inteligente e até mesmo
estratégica, pois como humanos que somos é evidente que dependemos que o mundo
natural esteja funcionando em sua plenitude. É importante salientar a luz do pensamento
do filósofo alemão Immanuel Kant que a natureza é regida por leis que naturalmente
atuam agindo e reagindo de forma proporcional à como é tratada.
O desenvolvimento tecnológico tem sido um elemento
estratégico para a humanidade como um todo, os avanços na medicina, engenharia,
física, dentre outras áreas nunca foram tão longe como na era da informação. Ao
mesmo tempo as relações sociais desta mesma era sofreu alguns impactos que me
parece ter sido um viés contrário aos benefícios das áreas mencionadas acima,
ou seja, as relações humanas tornaram-se mais evasivas e superficiais, o mau
uso das ferramentas tecnológicas não respeitam os limites morais e éticos e com
isso a própria democracia é afetada ao ponto de termos vidas sendo ceifadas por
conta de boatos infundados que surgiram no seio de uma comunidade. Posições
políticas são desrespeitadas, famílias são postas umas contra as outras e países
são divididos dentro do seu próprio território. Aonde estamos e aonde iremos
parar no tocante a democracia e ao convívio civilizado?
O poder e a política parecem não mais dialogar, aonde há
excesso de poder a política fica em segundo ou terceiro plano; aonde há uma
política de manutenção de poder não há gestão e com isso a sociedade sofre as consequências
em suas realidades mais sensíveis como a falta de saúde, educação, segurança e
emprego, que, por conseguinte desaguam em forma de crise no contexto de bem-estar
da nação. Talvez seja possível dizer que a democracia global esteja em crise,
em decadência e me parece que a solução não passa por uma proposta global,
engessada, formulada em gabinetes sem considerar as subjacências de cada
realidade social em seu contexto cultural e político. A história deixa claro
que democracia se adquire ao longo do tempo e o amadurecimento político democrático
é fruto de um exercício coletivo, harmônico, ético e digno.
A autonomia individual é um elemento gerador de dignidade e
equidade, os indivíduos que são indivíduos somente por viverem em comunidade
não podem deixar de viver a luz da cooperação mutua necessária para combater o
totalitarismo seja político ou social. Nunca se fez tão necessário alimentar-se
do que edifica, do que nos lança para o futuro, para a frente, do que nos
auxilia na colheita de longo prazo no campo social, físico e mental. As mídias sociais,
a TV e outras ferramentas do entretenimento não são garantias nem muito menos
alimentos sólidos capazes de nos nutrir e evidenciar maturidade e segurança
política e democrática.
Qual a condição global do indivíduo hoje? Certamente não é de
bem-estar. Não seria, sendo que fica cada dia mais evidente que a proposta
parte inicialmente da estabilização do mercado para depois se chegar ao indivíduo,
veja que por esta ótica o bem-estar individual já está em segundo plano, essa
proposta política e econômica é talvez fruto até mesmo das relações que estão
sendo construídas por meio das redes sociais, ou seja, relações sem vínculos duradouros
e que facilmente podem ser quebradas ou desfeitas na medida em que não mais
tenho nenhum interesse em comum com os que do outro lado estão; quero dizer,
enquanto dependo de você haverá reciprocidade, no entanto ao atingir meu
propósito digo-lhe muito obrigado ou talvez nem me seja necessário despedir-se,
simplesmente rompo com a relação com um simples clique em um botão virtual.
Liberdade, segurança, felicidade, dignidade, são palavras e
qualidades que estão longe de serem uma realidade para o individual da
pós-modernidade. Primeiro vale ressaltar a grande ambivalência existente entre
a liberdade e a segurança, ambas estão intimamente ligadas, pois na medida em
que priorizo obter a liberdade em maior grau, se faz necessário abrir mão de
parte da minha liberdade e vice-versa. No tocante a felicidade, caberia
perguntar o que de fato me faz feliz ou o que é felicidade, pois acredito não
haver uma receita que seja padronizada para todos os seres humanos, portanto é
possível que seja mais prático estabelecer uma condição social por meio da
política em que a dignidade geral da nação seja mantida intacta e assim deixar
que cada um estabeleça sua condição de felicidade.
Considerando que não existe uma solução perfeita para nada
neste mundo desajustado, aonde as leis naturais agem e reagem na proporção em
que são impulsionadas assim o fazer, é preciso dialogar, construir pontes ao
invés de levantar muros e barreiras que impeçam o avanço da civilização, afinal
de contas como disse em alguns parágrafos acima, somos um país global e o que
uma comunidade sofre aqui ou ali, esse país global inteiro em algum momento
sofrerá os efeitos e as reações advindas de tal fenômeno.
O destino de cada pessoa, de cada nação ou
comunidade certamente passa primariamente pelo que é plantado no campo da subjetividade,
quero dizer, pelo caráter. É o caráter individual que forma o pensamento
coletivo por meio da influência e do exemplo, cada um determina, cria sua
própria realidade em consequência de suas escolhas e projetos de vida, cada um
cria sua própria felicidade, não podemos perder nossa individualidade nem muito
menos acreditar que será com base na forma de viver, se vestir e falar do outro
replicada a minha vida que irá estabelecer minha felicidade e condição de bem
estar, há um mundo perfeito com as minhas medidas aguardando minha chegada, mas
somente o alcançaremos se tomarmos os caminhos da honestidade, hombridade,
respeito, ética e coletividade.
Olá Glauber,
ResponderExcluire qual o papel que desempenha o sistema capitalista nesse processo? Como falar em honestidade, hombridade, respeito, ética e coletividade quando vivemos em uma selva em que a ética do dinheiro (e consequentemente do poder) é a que prevalece? Não estou dizendo que esses princípios que vc cita não possam ou não devam ser buscados, mas precisamos trazer para o debate as leis que regem o sistema hegemônico, para podermos pensar saídas a partir das fissuras desse mesmo sistema.