domingo, 17 de março de 2019

REFLEXÃO: Cultura midiática, Mídias digitais, Substratos da Cibercultura


Fonte: SANTAELLA, L. - Culturas e artes do pós-humano (Cap. 2, 3 e 4)


CULTURA MIDIÁTICA

Considerando a realidade social econômica, política e cultural do mundo em pleno século XXI, qual seria a condição atual da cultura midiática? Qual o lugar ocupado pela mesma no atual momento? Antes de discorremos sobre o tema, é importante considerar o que escreveu SANTAELLA, de que há duas concepções básicas de cultura, as humanistas, e as antropológicas.

Até meados do século XIX, havia no ocidente um delineamento entre as culturas eruditas das elites e a popular oriunda das classes dominadas. Ambas foram fortemente impactadas com o advento da cultura de massas, que teve origem nos meios de reprodução técnico-industriais. Uma tendência natural neste movimento seria dissolver a polaridade entre os dois lados e, por conseguinte anular suas fronteiras, daí o surgimento de tecidos híbridos nas culturas urbanas.

A partir da revolução industrial ficou cada vez mais complicado determinar os códigos, as formas e gênero da cultura e isso se deu com o advento da fotografia e do cinema, assim como, de algumas peculiaridades da arte moderna. Isso não quer dizer que houve um desaparecimento dos aspectos tradicionais da cultura. A cultura humana é cumulativa, apesar de não ser linear, mas ela persiste, o artesanal não deu lugar ao industrial, nenhum dos outros aspectos da cultura deu lugar aos novos trazidos pela cultura de massas. O que prevaleceu foram as novas alianças, novos formatos.

Um detalhe interessante é que há na cultura, meios de comunicação que executam um papel ambíguo no tocante à cultura, ao mesmo tempo em que a produzem, também tem a capacidade de divulgar outras formas e gêneros da cultura.

No contexto da cultura pós-moderna a cultura midiática é um elemento preponderante na aceleração, ampliação e transnacionalização do processo cultural.

MÍDIAS DIGITAIS

Em linhas gerais, falar de mídias digitais é fazer referência aos meios de comunicação de massa, tais como, jornal, rádio, revista e televisão. As mídias digitais causaram uma revolução cultural profunda nas sociedades, logo é possível concluir que este movimento tende a continuar revolucionando contextualizadamente na medida em que haja o surgimento de novos meios de comunicação. Penso ser importante salientar que nenhum meio de comunicação atua de forma isolada, eles sempre estão engajados ideologicamente de uma forma ou de outra. Os ciclos culturais são em sua maior parte oriundos dos novos meios de comunicação.

Na visão marxista existem arenas de luta de classes no interior de toda cultura, sua concepção sociopolítica afirma haver uma tensão constante entre os dois lados.

Acredita-se que a globalização é devedora das poderosas tecnologias comunicacionais atuais. A revolução digital está batendo às portas do mundo. A era digital trouxe consigo uma forma comunicar e produzir informação nunca antes vista. Há uma fusão sem precedentes dos meios de comunicação e com isso o eminente surgimento de sistemas híbridos de comunicação ganham espaço e aceleram ainda mais o processo de mudanças na cultura, perpassando desde os aspectos mais simples até os mais complexos da sociedade.

O capitalismo naturalmente se lança sobre todo este movimento e se impõe como expressão catalizadora de toda a revolução do ciberespaço oriundo dos avanços tecnológicos. No entanto, seria utópico acreditar que tudo se restringe apenas ao contexto tecnológico, forças políticas e culturais também se aproveitam de todo esse movimento. As novas tecnologias são formatadas sob metida, visando alcançar propósitos políticos, pessoais e organizacionais. Tendências oligopolistas ficam cada vez mais evidente na medida em que muitas empresas vão se dilatando no âmbito da comunicação em geral, em contrapartida o Estado não se opõe em nada para agir neste ciberespaço e evitar uma derrocada sem precedentes do lado mais fraco, as empresas com menor porte e a sociedade socialmente carente.

O capitalismo digital deixa bem claro quais são suas regras, se você não faz parte da aliança que estabeleço, apenas aguarde o seu fim, ou se junta a nós sob as nossas condições ou esteja convidado a não fazer parte do movimento global do novo comercio. Não há o que duvidar, os ciberespaços da atual era tem suas regras ditadas pelo capitalismo, ainda continuamos com a mesma realidade de séculos atrás, uma minoria continua detendo a riqueza e o poder. Isso não quer dizer que nada pode ser feito e nem muito menos esta realidade será alterada, não foi possível pelos meios de massa, mas no contexto dos ciberespaços ainda há brechas e vãos para a comunicação e estes espaços necessitam serem ocupados o mais rápido possível pelos intelectuais e educadores que almejam uma realidade sociocultural distinta da implementada até agora.

SUBSTRATOS DA CIBERCULTURA

Ainda há algumas dúvidas se cibercultura e cultura digital podem ser consideradas a mesma coisa, penso que sim, no entanto creio que não há nenhuma dúvida de que este movimento traz consigo novas formações sócios culturais e que o pós-modernismo encontrou definitivamente sua a face que lhe é própria.

Como estamos descrevendo desde o princípio desta reflexão, ou seja, a cultura midiática inicia sua escalada por meio da cultura de massas, mas é na cultura digital que ao que parece ela se consolida. Ao contrário do que parece, o momento é de sincronização de todas as linguagens e de todas as mídias inventadas pelo ser humano. A televisão e sua peculiar característica de apenas transmitir informação sem interagir ainda permanece, o homem torna-se cada vez mais despersonalizado sobre a influência das difusões midiáticas sem compromisso com a formação social homogênea, ou seja, nada do que ocorre hoje na cultura digital tem origem no acaso.

A cultura digital trouxe consigo um tecido cultural hibrido, não houve uma passagem de uma era cultural para outra, elas se sobrepuseram e também se tornaram cada vez mais densas. A nossa relação com as máquinas ganhou uma nova perspectiva a partir dos anos 80, quando as novas tecnologias proporcionaram uma experiência distinta tal como a interface nos computadores, logo nos tornamos usuários e não mais apenas receptores, daí nasce a cultura da velocidade e a nossa interação com as máquinas são intensamente humanizadas.

O que conhecemos hoje como rede interligada de máquinas e computadores pode ser considerado como o ciberespaço e as interfaces estão intrinsecamente presentes neste contexto, portanto se o ser humano está plugado nesta rede, podemos afirmar que a tecnologia está incorporada no mesmo. Muitos acreditam que este simples fato, ou seja, está plugado é o suficiente para agregar ao repertório humano, habilidades e outros elementos chaves para seu desenvolvimento na presente era.

Passamos do artesanal tal como o jornal impresso, para as mídias eletrônicas e hoje nos encontramos a todo vapor nas mídias digitais; notem que vivemos em um mundo em constante devir. A não linearidade que mencionei em parágrafos anteriores ainda se faz presente como característica preponderante da cultura digital e na medida que esta e as novas mídias penetram em nossa vida, elas mudam nossa forma de pensar e perceber a realidade. Ou seja, nossa forma de viver hoje também é não linear, as vezes até que tentamos mudar isso, mas a forma como a realidade se apresenta nos obriga na maioria das vezes a viver conforme a realidade se apresenta.

É possível interagir dentro de ambientes simulados, ter a comunicação mediada por computadores, interações são simuladas de forma muito aproximada da vida real, são experiências audíveis, visuais e táteis geradas computacionalmente. Nenhuma tecnologia anterior as atuais haviam invadido tão contundentemente nossa intimidade. Esse é o mundo da internet, o ciberespaço que traz consigo a nova cidadania eletrônica, uma nova forma de relação, oportunidades, pesquisa e competição entre os homens.

2 comentários:

  1. Olá Glauber,
    e por que cibercultura e cultura digital podem ser consideradas a mesma coisa? é necessário conceituar cada uma delas para encontrar aproximações e/ou distinções. Muitos teóricos têm afirmado que sim, são o mesmo, mas entendo que a cultura digital abarca a cibercultura e vamos tentar entender isso melhor em nossa discussão em aula

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  2. Olá Glauber! Bem norteador suas considerações para um melhor entendimento sobre estes termos que se assemelham em alguns elementos, porém, se distanciam em teorias e conceitos.

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