sábado, 30 de março de 2019

REFLEXÃO: Ciberespaços e tecnologias móveis



Fonte: Ciberespaço e Tecnologias Móveis. Processos de Territorialização e Desterritorialização na Cibercultura - André Lemos



A reflexão que faço sobre o texto gira em torno da excessiva racionalização do homem na busca do controle sobre as movimentações sociais da humanidade. Seja desterritorializando ou reterritorializando; fica evidente a presença intrínseca e em alguns casos explicita da ação do homem em controlar os espaços habitados pelo seu semelhante, seja ele físico ou o ciberespaço da cultura digital. A globalização tem imposto a vida humana um processo natural de migração para os ciberespaços como forma de vida e engajamento, seja social, profissional, acadêmica etc. A pergunta a se fazer é o quanto é necessário e quais os limites desse processo de territorialização, assim como, quais os interesses por trás desta pressão social para se colocar na rede.

Tudo é muito sutil, os mais diversos dispositivos digitais com os quais dividimos o nosso dia a dia, ou até mesmo os utilizamos para conduzir a nossa vida são também instrumentos de mapeamento do nosso perfil social quando registram nossas buscas por algo a ser consumido, ou nos auxiliam em nossos deslocamentos e interações diversas. O autor se refere a este processo como “marcas eletrônicas deixadas na rede”, as quais servirão de base para algo ou alguém em algum lugar seja perto de nós ou a milhares de quilômetros daqui.

Não importa aonde estejamos, seja aqui ou em outro continente, como adeptos da cultura digital, se estivermos dentro do ciberespaço será sempre possível controlar-nos. Neste contexto, os dispositivos digitais ao mesmo tempo que servem como instrumentos que nos auxiliam a superar as barreiras geográficas, as cidades e as fronteiras, logo um instrumento de reterritorialização, passa a ser um elemento chave de controle social.

O ciberespaço tem a capacidade de ao mesmo tempo em que desterritorializa, consegue reterioalizar, e isso vale para os níveis político, econômico, social, cultural e subjetivo. A questão que levanto é justamente os efeitos engendrados desse processo na realidade social existente. A minha grande preocupação passa pela concepção que possuo a respeito da cultural digital ser na maioria das vezes sem limites, a impressão que tenho é que os ciberespaços não levam em consideração os valores pré-existentes no contexto político, econômico, social e cultural e, com isso tende a proporcionar percas irreparáveis na medida em que exerce sua influência.

Tenho consciência da natural pré-disposição do homem em movimentar-se para conquistar e estabelecer-se frente a realidade de que lhe é imposta, mas me preocupo se este está em condições de assumir o controle de todo o processo de desterritorialização e reterritorialização de forma autônoma, veja, T. Hobbes em sua obra clássica “O Leviatã” afirma em outras palavras que “o grande problema da humanidade surge quando o homem resolve pregar uma estaca de madeira ao solo, demarcando um espaço e declarar que a partir de então aquele ambiente era de sua propriedade”; desta forma sou levado a pensar nos desdobramentos propostos pela cultura digital por meio dos ciberespaços.

No verão de 2017, estive em duas cidades espanholas com vistas a conhecer um pouco mais da cultura daquele país. Algo curioso me aconteceu na cidade de Barcelona ao sair de uma determinada estação de metrô e me deparar com dezenas de imigrantes, cidadãos africanos, aparentemente falando o mesmo idioma/dialeto, vestidos basicamente de forma igualitária, cada um possuindo uma espécie de lençol branco que estava dobrado de uma forma particular de maneira tal que ganhava um formato de bolsa ou sacolão aonde eles carregavam ali dentro uma série produtos de diversas características; todos estavam juntos na saída desta estação, sentados a sobra em um dia escaldante, de “forte sol”, cantavam e pareciam se comunicar de forma assertiva naquilo que parecia um dialeto peculiar da sua região de origem. Aquela situação me chamou a atenção, sentei-me a uma certa distância e passei a observa-los, logo percebi que eram africanos do norte do continente por causa de algumas bandeiras típicas que carregavam consigo dos países norte-africanos, notei também que praticamente todos carregavam consigo um smartphone, e vez ou outra se alto registravam como que se estivessem fazendo um self ou até mesmo comunicando-se com sua familia, amigos ou país de origem ou com pessoas de qualquer outra parte do mundo. O que ficou evidente para mim foi que não se tratavam de turistas, pois haviam policiais que os cercavam a todo tempo e a cada movimento individual ou em grupo, estes recebiam “atenção” daquelas autoridades militares, enfim, eram imigrantes que estavam fisicamente e no ciberespaço em meio a tensões sociais procurando a luz da cultura digital, desterritorializar e territorializar.

Bom, precisei seguir meu caminho e alguns dias depois me desloquei até a capital espanhola (Madri), e no percurso que fiz de trem, tomei um periódico para ler e fui surpreendido com uma entrevista de um líder africano de um determinado movimento de apoio a imigrantes africanos, que não só apoiava este movimento, mas combatia toda e qualquer violência física e ou emocional causada pelos países da união europeia aos que estavam segundo palavras deste líder, “apenas tentando recuperar(ou talvez reterritorializar-se no contexto da cultural digital) de forma pacifica a riqueza que um dia os europeus de forma brutal lhes saquearam”. Aquelas palavras me chamaram bastante a atenção e fiquei refletindo sobre os reais interesses por trás da cultural digital ao promover todo este movimento de emancipação do homem no âmbito dos ciberespaços. Aquilo que um dia foi primariamente por meio de navios no contexto do continente Africano e da Europa, hoje ganha mais um possível aliado por meio dos ciberespaços.

Bem, chegando em Madri, resolvi tirar um dia para caminhar pelo centro histórico da cidade, e em um determinado momento ouvi uns gritos e uma pequena correria me despertou, procurei um lugar “seguro”, pois se tratava de uma variável não muito comum para os padrões daquela cidade, mas ao mesmo tempo me pus a observar o que estava acontecendo, percebi que se tratava de dois policiais que enquadrara um imigrante africano acusando-o de furto, a multidão observava a cena e passados alguns poucos minutos logo se dispersara, tomei meu caminho e desci uma avenida no sentido do “Museo Del Prado”, ao qual pretendia visitar naquela tarde, foi quando me deparei com alguns destes imigrantes com suas mercadorias estendidas em cima de um lençol branco em frente a uma estação de metrô e resolvi me dirigir até um deles, foi quando percebi que vendia camisa de times de futebol, comprei uma camisa do Barcelona(clube tradicional da Espanha), e aproveitei para construí um diálogo a partir daquele momento; perguntei coisas do dia a dia, tais como, sobre a familia, futebol, amigos, comida, e finalmente sobre seu país de origem, cidade/aldeia ou tribo de origem; notei que a todo tempo o jovem com o qual desenvolvi um diálogo comunicava-se com outros que ali estavam a poucos metros e espalhados por toda a avenida por meio do smartphone, creio que utilizando a mídia social Whatsapp ou uma outra similar, e percebi que esta atitude era uma espécie de estratégia de proteção aonde eles avisavam uns aos outros a respeito de tudo o que ocorria no raio de presença deles de forma que parecia uma forma de “controlar” a situação e assim nada de ruim pudesse lhes acontecer; logo tive a sensação que o que ocorrera antes no início dessa avenida, talvez tenha acontecido por conta que aquele imigrante se separara do grupo ou quem sabe se descuidara se deixando levar pelo desejo de algo que não lhe pertencia a ponto de tentar se apropriar de forma indevida, conforme anunciara em alta voz os policiais naquele momento.

Dentre as muitas lições que tiro desta experiência, uma das que mais me choca é que perdemos a capacidade de convivência coletivamente, de amar, de respeitar, de valorizar a vida humana. Para mim, sempre fomos uma aldeia global, um mesmo povo, apenas estávamos separados fisicamente por consequência da pré-disposição de conquista quando resolvemos “ganhar o mundo” transpondo os limites da terra, em busca de novas aventuras tendo como pano de fundo o desejo pela conquista, pelo que é novo. Com o advento da globalização (particularmente penso que em grande parte decorrente do progresso intelectual do ser humano), a qual considero como o processo de reagrupamento natural decorrente daquilo que um dia foi homogêneo mentalmente e fisicamente, simplesmente desconsideramos tudo e passamos a nos enxergar como opositores territorialmente e ideologicamente, logo também socialmente. A nossa pré-disposição em conquistar o ainda não conquistado ganha novos ingredientes, ou seja, já que nos encontramos novamente como povo, prevalece o meu pensamento, as minhas ideias, as minhas vontades, a minha forma de vestir, a minha cor, a minha cultura, os meus modos, enfim, se não forma da forma como eu penso, não podemos conviver pacificamente, logo “é melhor que o outro não exista”; se a realidade não for pautada pela minha cultura, minha política, minha economia, meus costumes, meus produtos, não haverá harmonia. De outra forma, não haverá ordem mundial na grande aldeia mundial gerada pela globalização, seja no território físico tal qual conhecemos, seja nos ciberespaços.

domingo, 24 de março de 2019

REFLEXÃO: Cidadania Digital



Fonte: 
PATROCINIO, Tomás. Para uma genealogia da cidadania digital. Educação, Formação & Tecnologias, vol. 1 p. 47-64;
BUSTAMANTE, Javier. Poder comunicativo, ecossistemas digitais e cidadania digital. p. 11-35;
DI FELICE, Massimo. Net-ativismo e ecologia da ação em contextos reticulares.



A despeito da evolução e do percurso histórico dos conceitos de cidadania, quero iniciar minha reação ao texto afirmando que é possível a cidadania em todos os povos. É importante pensar e teorizar a respeito, as delimitações oriundas do exercício do pensar sobre tais fenômenos são essenciais para o avanço social. Ao afirmar que é possível a cidadania, me apego ao elemento da civilidade como um dos fatores determinantes desta possibilidade. A civilidade deve ser um ideal de toda nação, povo e território habitado pelo ser humano; penso ser ela uma condição sine qua non do processo de cidadania. O exercício da civilidade lança as bases fundamentais para se alcançar um nível de cidadania suficiente para dar sustentabilidade social a uma nação, isso não quer dizer que intempéries não surgirão e que desajustes sociais não ocorrerão, mas asseguro que será muito mais fácil superar os problemas sociais na medida em que estas bases estiverem muito bem alicerçadas.

O ser humano é um ser gregário, que possui sentimentos, anseios e desejos que lhes são essencialmente naturais. A vida social lhe é natural, relacionar-se é um fator determinante para o seu desenvolvimento e dar-lhe uma condição social política e jurídica humanizada talvez seja uma condição mínima para o seu melhor desempenho civil. Penso ser indissociável a pessoa do civil no tocante ao ser humano, me parece notória a relação intrínseca destes dois elementos desde seu nascimento, tirar-lhe isso é proporcionar uma ruptura na sua dignidade. O empoderamento sócio-político do ser humano me parece ser um caminho seguro, desde que, em suas bases sejam claras e evidentes a presença do respeito e da liberdade para exercer suas funções civis em seu cotidiano. O contexto político social do presente momento é complexo e tende a tornar-se cada vez mais na medida em que novos estágios vão sendo agregados a trajetória da humanidade, o advento da tecnologia tem proporcionado diversos fenômenos que requerem bastante atenção e sensibilidade principalmente no tocante as relações sociais. Os ciberespaços não devem ser terra de ninguém, e de fato não são, apesar de que alguns optam por viver como se fosse; sabemos que todo processo civilizatório passa por diversos estágios de maturação até alcançar o amadurecimento, no entanto a falta de atenção política e regulação pode gerar percas incomensuráveis na formação civilizatória e, a educação é sem dúvida um elemento chave para conduzir este processo.
    
A cidadania digital não é possível sem ter a educação como sua norteadora, as tecnologias digitais estão aí, são reais e seu movimento é linear e veloz, não podemos negar, tendo em vista este fenômeno fica cada vez mais evidente a necessidade de emancipar os cidadãos neste novo contexto. O mundo é definitivamente um país global, logo, o que ocorre em um hemisfério certamente exerce influência no outro e vice-versa, as interconexões são cada vez mais sofisticadas tecnologicamente e, por conseguinte culturalmente, economicamente e politicamente. Não podemos afirmar que a globalização seja antagônica ao processo civilizatório nem a cidadania humanizada e muito menos digital, muito pelo contrário, ela abre portas, estende pontes e possibilita uma diversidade de todas as ordens nas relações humanas, no entanto se faz necessário como dizia lá em meu interior, “colocar cabestros”, impor limites, domá-la em suas variáveis que se aproximam de “selvagens”, mas ratifico a grande possibilidade de se tirar muito proveito de tudo isso. Notoriamente a globalização engendrou um novo cidadão em nossos dias e me parece que assim será por um bom tempo daqui para frente, é o cidadão cosmopolita, universalista, capaz de estar em diversos lugares ao mesmo tempo sem que necessariamente esteja presente fisicamente, seja economicamente, socialmente ou politicamente é possível transitar digitalmente e o que é mais impressionante, simultaneamente de forma instantânea e eficaz, seja comprando, instruindo, capacitando-se, relacionando-se de um modo geral. É o que para alguns pode-se chamar de cidadania supranacional, ainda que outros não aceitem esta definição, se não isso, muito perto disso estamos; Pode-se alguém pensar que isso seja desvalorizar a cidadania nos moldes que conhecemos hoje, pelo fato de nos distanciarmos fisicamente e perdemos a essência do toque e da química gerada pelos sentidos sensoriais, mas assim como ocorre no mundo da cultura midiática, talvez um modelo de cidadania não substitua o outro, talvez seja possível caminhar juntos, mas para que isso ocorra penso ser necessário regular, propor políticas públicas que perpassem a formação inicial, o acompanhamento e o desenvolvimento destas relações entre os cidadãos, pois de outra forma é possível vislumbrar no curto prazo o enfraquecimento do Estado-nação e este não é um bom sinal política e culturalmente.

Estamos convergindo para o exercício de uma nova cidadania, é a cibercidadania, com todas as suas complexidades, suas possibilidades e acima de tudo seu desafio sociocultural. O que ensinar nas escolas em todos os seus níveis? A adequação do ensino certamente não se harmoniza em sua inteireza com os moldes do século passado, isso não quer dizer que os princípios não permaneçam, mas os métodos certamente devem passar por uma revolução, são universos quase que totalmente diferentes, ao mesmo tempo pergunta-se o que aprender? Quais as prioridades do currículo e qual deveria ser a forma de abordar cada assunto? Veja, é impossível não assumir riscos nesta nova realidade da cibercidadania, os riscos fazem parte da história humana e são de grande valia para impor limites em determinados contextos que se parecem nociveis as relações sociais de bem-estar, mas esta nova realidade pressupõe autonomia, assim como, privacidade, logo talvez seja impossível viver de outra forma. O cidadão da cibercidadania é, como nunca antes fora, cidadão produtor de informação em potencial sem precedentes, e a distância entre ele seu pensamento e a produção de conteúdo não passa do alcance de seus dedos em posse de uma smartphone.

As comunidades virtuais exercem um papel interessante no desenvolvimento desta nova modalidade de cidadania, assim como, nas comunidades físicas elas são pontos de encontros para a criação e desenvolvimento de relações, o grande diferencial talvez seja que é possível haver diversidade, seja de gênero, física ou até mesmo de pensamento, não necessariamente as interconecções podem ocorrer de forma homogêneas, na realidade caracteriza-se mais pela heterogeneidade de todos os aspectos. No entanto há de se considerar que não é impossível que esta realidade virtual se materialize fisicamente, na medida em que as demandas e as relações se intensificam e os interesses se afunilam o que é virtual facilmente torna-se físico em suas mais variadas formas.
     
Definitivamente o conhecimento, a cidadania, a educação e a cultura na era global serão elementos mais do que preponderantes para o desenvolvimento de uma nação em todos os seus aspectos. A sustentabilidade sócio econômica perpassa por estes aspectos, a visão de futuro é ampliada na medida em que novos níveis dentro destas quatros perspectivas são alcançados e, novos degraus são superados. Em decorrência deste contexto penso que estamos diante da necessidade de um novo paradigma educativo, se é que ele já não existe e me falta apropriar-se teoricamente do mesmo; estamos dentro do espaço do saber, aonde tudo é facilmente acessado em suas múltiplas formas, a ciberdemocratização possibilita inúmeras possibilidades educacionalmente, culturalmente e economicamente aos seus concidadãos. As políticas públicas educacionais no contexto das TIC nunca foram tão necessárias como nos dias de hoje e certamente se farão ainda mais necessárias no amanhã.
   
Concluo com a percepção de que estamos vivendo em uma nova cultura de aprendizagem e cidadania, aonde tonar-se um cidadão digital é desafiador, assim como, urgente; e ao que parece possibilitador de novas conquistas contextualizadas aos ciberespaços. Em harmonia com este pensamento, percebe-se que o elemento básico para usufruir destas novas experiências tecnológicas é estar aberto e ter uma visão crítica-construtiva e inslusiva desta nova realidade e no campo da educação isso implica primordialmente na implantação das novas TIC em forma de políticas públicas.

domingo, 17 de março de 2019

REFLEXÃO: Cultura midiática, Mídias digitais, Substratos da Cibercultura


Fonte: SANTAELLA, L. - Culturas e artes do pós-humano (Cap. 2, 3 e 4)


CULTURA MIDIÁTICA

Considerando a realidade social econômica, política e cultural do mundo em pleno século XXI, qual seria a condição atual da cultura midiática? Qual o lugar ocupado pela mesma no atual momento? Antes de discorremos sobre o tema, é importante considerar o que escreveu SANTAELLA, de que há duas concepções básicas de cultura, as humanistas, e as antropológicas.

Até meados do século XIX, havia no ocidente um delineamento entre as culturas eruditas das elites e a popular oriunda das classes dominadas. Ambas foram fortemente impactadas com o advento da cultura de massas, que teve origem nos meios de reprodução técnico-industriais. Uma tendência natural neste movimento seria dissolver a polaridade entre os dois lados e, por conseguinte anular suas fronteiras, daí o surgimento de tecidos híbridos nas culturas urbanas.

A partir da revolução industrial ficou cada vez mais complicado determinar os códigos, as formas e gênero da cultura e isso se deu com o advento da fotografia e do cinema, assim como, de algumas peculiaridades da arte moderna. Isso não quer dizer que houve um desaparecimento dos aspectos tradicionais da cultura. A cultura humana é cumulativa, apesar de não ser linear, mas ela persiste, o artesanal não deu lugar ao industrial, nenhum dos outros aspectos da cultura deu lugar aos novos trazidos pela cultura de massas. O que prevaleceu foram as novas alianças, novos formatos.

Um detalhe interessante é que há na cultura, meios de comunicação que executam um papel ambíguo no tocante à cultura, ao mesmo tempo em que a produzem, também tem a capacidade de divulgar outras formas e gêneros da cultura.

No contexto da cultura pós-moderna a cultura midiática é um elemento preponderante na aceleração, ampliação e transnacionalização do processo cultural.

MÍDIAS DIGITAIS

Em linhas gerais, falar de mídias digitais é fazer referência aos meios de comunicação de massa, tais como, jornal, rádio, revista e televisão. As mídias digitais causaram uma revolução cultural profunda nas sociedades, logo é possível concluir que este movimento tende a continuar revolucionando contextualizadamente na medida em que haja o surgimento de novos meios de comunicação. Penso ser importante salientar que nenhum meio de comunicação atua de forma isolada, eles sempre estão engajados ideologicamente de uma forma ou de outra. Os ciclos culturais são em sua maior parte oriundos dos novos meios de comunicação.

Na visão marxista existem arenas de luta de classes no interior de toda cultura, sua concepção sociopolítica afirma haver uma tensão constante entre os dois lados.

Acredita-se que a globalização é devedora das poderosas tecnologias comunicacionais atuais. A revolução digital está batendo às portas do mundo. A era digital trouxe consigo uma forma comunicar e produzir informação nunca antes vista. Há uma fusão sem precedentes dos meios de comunicação e com isso o eminente surgimento de sistemas híbridos de comunicação ganham espaço e aceleram ainda mais o processo de mudanças na cultura, perpassando desde os aspectos mais simples até os mais complexos da sociedade.

O capitalismo naturalmente se lança sobre todo este movimento e se impõe como expressão catalizadora de toda a revolução do ciberespaço oriundo dos avanços tecnológicos. No entanto, seria utópico acreditar que tudo se restringe apenas ao contexto tecnológico, forças políticas e culturais também se aproveitam de todo esse movimento. As novas tecnologias são formatadas sob metida, visando alcançar propósitos políticos, pessoais e organizacionais. Tendências oligopolistas ficam cada vez mais evidente na medida em que muitas empresas vão se dilatando no âmbito da comunicação em geral, em contrapartida o Estado não se opõe em nada para agir neste ciberespaço e evitar uma derrocada sem precedentes do lado mais fraco, as empresas com menor porte e a sociedade socialmente carente.

O capitalismo digital deixa bem claro quais são suas regras, se você não faz parte da aliança que estabeleço, apenas aguarde o seu fim, ou se junta a nós sob as nossas condições ou esteja convidado a não fazer parte do movimento global do novo comercio. Não há o que duvidar, os ciberespaços da atual era tem suas regras ditadas pelo capitalismo, ainda continuamos com a mesma realidade de séculos atrás, uma minoria continua detendo a riqueza e o poder. Isso não quer dizer que nada pode ser feito e nem muito menos esta realidade será alterada, não foi possível pelos meios de massa, mas no contexto dos ciberespaços ainda há brechas e vãos para a comunicação e estes espaços necessitam serem ocupados o mais rápido possível pelos intelectuais e educadores que almejam uma realidade sociocultural distinta da implementada até agora.

SUBSTRATOS DA CIBERCULTURA

Ainda há algumas dúvidas se cibercultura e cultura digital podem ser consideradas a mesma coisa, penso que sim, no entanto creio que não há nenhuma dúvida de que este movimento traz consigo novas formações sócios culturais e que o pós-modernismo encontrou definitivamente sua a face que lhe é própria.

Como estamos descrevendo desde o princípio desta reflexão, ou seja, a cultura midiática inicia sua escalada por meio da cultura de massas, mas é na cultura digital que ao que parece ela se consolida. Ao contrário do que parece, o momento é de sincronização de todas as linguagens e de todas as mídias inventadas pelo ser humano. A televisão e sua peculiar característica de apenas transmitir informação sem interagir ainda permanece, o homem torna-se cada vez mais despersonalizado sobre a influência das difusões midiáticas sem compromisso com a formação social homogênea, ou seja, nada do que ocorre hoje na cultura digital tem origem no acaso.

A cultura digital trouxe consigo um tecido cultural hibrido, não houve uma passagem de uma era cultural para outra, elas se sobrepuseram e também se tornaram cada vez mais densas. A nossa relação com as máquinas ganhou uma nova perspectiva a partir dos anos 80, quando as novas tecnologias proporcionaram uma experiência distinta tal como a interface nos computadores, logo nos tornamos usuários e não mais apenas receptores, daí nasce a cultura da velocidade e a nossa interação com as máquinas são intensamente humanizadas.

O que conhecemos hoje como rede interligada de máquinas e computadores pode ser considerado como o ciberespaço e as interfaces estão intrinsecamente presentes neste contexto, portanto se o ser humano está plugado nesta rede, podemos afirmar que a tecnologia está incorporada no mesmo. Muitos acreditam que este simples fato, ou seja, está plugado é o suficiente para agregar ao repertório humano, habilidades e outros elementos chaves para seu desenvolvimento na presente era.

Passamos do artesanal tal como o jornal impresso, para as mídias eletrônicas e hoje nos encontramos a todo vapor nas mídias digitais; notem que vivemos em um mundo em constante devir. A não linearidade que mencionei em parágrafos anteriores ainda se faz presente como característica preponderante da cultura digital e na medida que esta e as novas mídias penetram em nossa vida, elas mudam nossa forma de pensar e perceber a realidade. Ou seja, nossa forma de viver hoje também é não linear, as vezes até que tentamos mudar isso, mas a forma como a realidade se apresenta nos obriga na maioria das vezes a viver conforme a realidade se apresenta.

É possível interagir dentro de ambientes simulados, ter a comunicação mediada por computadores, interações são simuladas de forma muito aproximada da vida real, são experiências audíveis, visuais e táteis geradas computacionalmente. Nenhuma tecnologia anterior as atuais haviam invadido tão contundentemente nossa intimidade. Esse é o mundo da internet, o ciberespaço que traz consigo a nova cidadania eletrônica, uma nova forma de relação, oportunidades, pesquisa e competição entre os homens.

sábado, 16 de março de 2019

REFLEXÃO: Escola e Sociedade


Referencias: 
FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade.
SNYDERS, George. Escola, Classe e Lutas de Classes.
FILME: A onda – Link: https://www.youtube.com/watch?v=zG3TfjAhs30
FILME: IF – Link: https://www.youtube.com/watch?v=mufpDXIss5A&t=387s


Avaliar a história da humanidade a partir da formação da sociedade tal como encontra-se hoje, ou seja, tomando com ponto de partida histórico o século 15, fica evidente uma característica marcante na personalidade deste, o egoísmo. O homem mostrou-se um ser com alto potencial de egoísmo, logo permite-me refletir sobre a grande e real necessidade de trabalhar este aspecto de forma contundente com foco em detê-lo na medida em que veementemente insista em percorrer este caminho.

O papel da família, da igreja, da escola e da comunidade como um todo é um elemento determinante para se lograr êxito no combate aos possíveis frutos indigestos proporcionados pelos seres humanos que se deixam levar pelo seu egocentrismo.

A educação ao meu ver ocupa uma posição protagonista no processo de formação cognitiva do indivíduo no contexto de torna-lo um ser civilizado e apto a participar da construção da sociedade tal qual almejamos; é na educação aonde é possível encontrar os elementos chaves e fundamentais para direcionar o indivíduo a plenitude social.

Penso que uma coisa deve estar clara para todos nós sobre o processo educativo do ser humano; há maior probabilidade de se alcançar níveis de excelência ainda não alcançados na medida em que aplicarmos o fator de contribuição coletiva que seja harmônica e sincronizada na ação de cada responsável conforme descrevi no segundo parágrafo desta reflexão, ou seja, não será da família o papel exclusivo de formar o cidadão e o entrega-lo em condições plenas de se sociabilizar coletivamente em sua comunidade, nem da igreja, nem da escola nem por conseguinte da comunidade.

Estes agentes estão de certa forma interligados e naturalmente na medida em que uma falha em algumas das etapas que lhe compete cumprir, o outro agente possivelmente será sobrecarregado e terá trabalho quem sabe além das suas “responsabilidades primárias”, para além de cumprir com o que socialmente lhe é de competência ter que se propor de alguma forma a preencher a lacuna que pelo outro agente outrora não foi de forma excelente cumprida.

Veja, cada um destes agentes de transformação social tem a capacidade de em seu processo educativo, enraizar valores em seus coo-responsabilizados na medida em que aplicam suas formas de influência ao ponto que para que haja uma ruptura junto a estes valores se fará necessário um ato que talvez tenha que lhe custar a própria vida; vale ressaltar que me refiro a valores que consideramos fundamentais e porque não dizer vitais. Valores que consideramos como princípios. Logo, como diz o ditado: “todo cuidado é pouco”; na maioria das vezes o que temos em nossas “mãos”, é o futuro da nação, a perpetuação de uma história e o bem-estar coletivo acima de tudo.

Em linhas gerais, ao que me parece, é na escola aonde se dá a maior parte do tempo da vida humana. Partindo deste pressuposto a humanidade e seus “representantes políticos”, tais como nos moldes que conhecemos hoje, resolveram se apoderar desta fase e espaço de tempo para imprimir seus ideais políticos e concepções de sociedade. Vejam, até onde isso é bom e ao mesmo tempo até onde isso é ruim? Talvez os ciclos históricos de cada nação, povo, sociedade possam falar melhor do que eu.

A reflexão que eu gostaria de abordar na realidade perpassa na forma de como isso se passou, se passa e se passará. Em primeira instancia eu diria que a vida humana do século 15 até os dias de hoje, o século XXI, a famosa era do conhecimento, sempre passou e está passando por processos de mudanças, certo? A vida humana mostrou-se dinâmica, houve progressos em diversas, se não em todas as áreas; claro que mais em algumas do que em outras, mas o fato é que o homem foi progredindo socialmente e a realidade da vida humana foi ganhando novas conotações principalmente no contexto do advento da tecnologia. Desta forma é possível afirmar que é inerente a vida humana a mudança e a possibilidade de progresso. No entanto, ao afirmar esse natural movimento, em minha ótica se faz necessário refletir sobre quais caminhos foram percorridos para se alcançar os possíveis progressos, assim como, o que foi preciso abrir mão para se trilhar os caminhos que nos trouxeram até aqui, nas condições políticas, sociais e culturais na qual nos encontramos.

Seria possível afirmar que algumas ideologias e movimentos não tiveram êxito político e social em sua proposta ideológica pelo simples fato de não terem se apropriado da escola tal como seu instrumento de “implantação”, ou disseminação das suas bases e propósitos? Ou caso tenham se apropriado, não o fizeram de forma que a estratégia escolhida não foi apropriada a época ou ao modelo social estabelecido pelo todo? Será ou seria de fato uma boa e provável alternativa seguir este caminho? Veja, me parece que sim. A escola, o sistema educacional e os atores educacionais, em minha opinião possuem grande relevância no processo de transformação social. Encaro a educação e o processo educativo no ambiente escolar como uma mina de ouro de valor inestimável, deste ambiente é possível mover o mundo, penso que o céu talvez seja o limite para tudo o que emana do ambiente escolar. A força intelectual de um ser humano vai além dos limites territoriais, este quando unido a um coletivo é talvez uma das maiores oposições frente a tudo o que possa querer comprometer o bem-estar geral de uma nação, comunidade ou sociedade global.

Não é à toa que o capital se apodera do processo educativo no ambiente escolar para consolidar suas teses e desejos. É um caminho seguro, inteligente e me parece que sustentável tudo o que se propõe por meio da escola. Na escola de hoje, mais do que nunca se reproduz a formação social do capitalismo, por conseguinte fica cada vez mais evidente a separação de classes e os conflitos instaurados.

Ainda acredito que é também na escola que temos maior probabilidade de corrigir os desajustes sociais que se reproduzem nela, mas que não são essencialmente pertinentes dela. Mas para que isso ocorra talvez seja necessário revisitar os ideais de uma escola, trazer os demais atores (família, igreja e comunidade), para mais próximo dela, e colocar em primeiro e último lugar a civilidade e o bem-estar geral.

sábado, 9 de março de 2019

REFLEXÃO: Modernidade Líquida => Prefácio + Cap. 3 Tempo/Espaço


Livro de: Zygmunt Bauman


Bens duráveis, relações duráveis, realidades duráveis são nos dias de hoje antagônicos ao sentido de prazer, alegria, gozo, felicidade e satisfação. É intolerável aos olhos da sociedade atual a ideia de ter que passar anos, ou quem sabe uma vida com um bem, ou mantendo uma relação afetiva, assim como, viver em uma sociedade sem altos índices de mudanças.

Esperar é sinônimo de tristeza e desprezo, viver o tédio natural da vida é ser ultrapassado, pois “tempo é dinheiro” segundo declarou Isaac Newton. O ócio não pode mais ser criativo, pois o ócio é maçante, sem graça, é uma característica padrão de pessoas ultrapassadas.

Não sabem os mais “adiantadozinhos” que o tédio natural da vida é a base da reflexão e é da reflexão que em grande parte emanam os pensamentos que moveram o mundo no âmbito da ciência, filosofia e da tecnologia. O ócio ainda pode ser criativo, mas se faz necessário ter abertura, abrir a mente, dar-se tempo e sentir a vida em suas mais sublimes facetas impressas nas cenas que vão passando e nos singelos traços refletidos pela natureza.

Sem significado racional a vida não permanece engajada, corremos soltos e individualizados em busca de sermos maiores para parecermos melhores, mas o fim de tudo isso é frustração.

Observe o mundo real, um dia tudo foi muito mais pesado e enraizado, hoje o que um dia foi pesado e fixo, passou a ser leve e móvel, ou seja, o progresso passa pela capacidade de se abrir as novas possibilidades sem necessariamente abandonar os princípios e essências, talvez modifiquemos os formatos, as substancias, mas o que caracteriza valor, não.

É importante identificar os caminhos naturais em que a vida vai se projetando, a tecnologia avança, as formas, as cores, e até mesmo a natureza evoluem, e penso ser interessante que a mentalidade e a forma de se fazer negócios, de empreender e de relacionar-se também evoluam e acompanhem tudo isso, no entanto é preciso ter sensibilidade, é preciso lançar-se ao futuro sem desprezar a leis naturais e lógicas que regem a história. Adaptar-se, moldar-se não são sinônimos de desprezo ao caminho que até aqui nos trouxe, muito pelo contrário, o diálogo entre estes pares talvez seja o ponto de equilíbrio.

Considerando que estamos vivendo na era da instantaneidade, onde tudo precisa e deve ser rápido, imediato, etc., onde a constante inovação substitui tudo e a todos como um rolo compressor, como fica o pensar a longo prazo? Quais ingredientes não podem faltar em uma proposta de projeto de vida pessoal, social ou organizacional?

Nunca a falta de domínio próprio ao ser humano fez tantos estragos quanto na atual era da humanidade; grandes são os níveis de ansiedade que assolam as pessoas, esta que talvez seja uma das ou a doença do século tem feito muitas vítimas em todas as escalas de idade, ela não perdoa crianças nem idosos, não respeita classe nem muito menos gênero. Um dos efeitos avassaladores quando estamos sobre o controle da ansiedade é a ideia de que tudo conspira contra nós, seja a vida natural ou as pessoas, inclusive dentro de nosso próprio convívio familiar, religioso, profissional e etc. A infelicidade, as frustações e as derrotas nunca foram antes tão fundamentadas nos porões da ansiedade. Enfim, se algo está dando errado ou já não saiu como planejado, a culpa é alheia, não de minha.

O mundo está desgovernado, os índices de violência são assustadores, as autoridades militares que foram instituídas para nos proteger tornaram-se o próprio crime; o que se houve corriqueiramente é que o Estado precisa colocar mais policiamento, punir com mais rigor o crime, construir mais presídios, impor pena de morte por crimes graves cometidos, é a famosa política do medo. Será mesmo esta a solução, não haveria um outro caminho menos custoso ao Estado e a sociedade como um todo.

Civilidade é o ideal humano para os que vivem em sociedade, sabemos que o preço é alto a se pagar para se alcançar plenitude civil, mas temos plena consciência que ainda é o caminho mais seguro, mais curto e mais eficaz para combater os desajustes sociais enfrentados pela comunidade global em maior escala nas periferias mundiais. É a única forma de proteção que não distancia as pessoas umas das outras; ainda que sejamos acusados de não sermos nós mesmos quando agimos civilizadamente, penso que seja a melhor maneira de se conviver harmonicamente, pois despir-se dos meus maus hábitos em favor do bem-estar comum é como utilizar uma máscara que possa esconder a minha real condição, mas se é por uma boa causa penso fazer sentido e ser válido.

Os espaços públicos possuem um papel preponderante na homogeneização da sociedade, é neste espaço que as individualidades são postas a prova e é neste momento que as políticas públicas que dão equilíbrio as relações e garantem o direito universal de ir e vir que fazem grande diferença. Sabemos que a coletividade tem um preço, se faz necessário abrir mão de algo que talvez seja importante ou até mesmo inegociável para alguns, no entanto notem que quando é dividimos estamos multiplicando, outros usufruem semelhantemente a nós, já quando não cedemos ou abrimos mão do nosso status quo, limitamos o benefício e o desenvolvimento harmônico da comunidade.

Gostaria de chamar a atenção para um aspecto muito sensível da atual era que vivemos ainda no contexto dos espaços públicos, estou falando dos espaços construídos ou estabelecidos socialmente como lugares de compras, consumo, lugares aonde se exerce uma falsa liberdade. As mentes consumistas encontram nestes espaços o seu deleite, em outros casos se derrama toda uma semana, mês, ano ou vida de frustrações quando pelo simples ato de consumir se garante um falso sentimento de libertação e realização. Para alguns há conforto pelo simples fato de sentissem aceitos em uma comunidade ou grupo por ter exercido o direito de comprar o objeto tão desejado que serve de símbolo de pertencimento a tais grupos.

De toda forma, fica o grande dilema das relações, a todo tempo somos desafiados a optar por nos relacionarmos uns com os outros abraçando-nos, respeitando-nos e juntos nos movendo ou nos omitindo física e emocionalmente da realidade alheia. E o ambiente aonde tudo isso ocorre é o ambiente público, aonde o viver urbano ocorre em suas diversas formas. Não é muito difícil hoje em dia estar em lugares sem ser notado, ao mesmo tempo que também não é impossível não notar as pessoas ou a realidade, vale o esforço para tornar as experiências autenticas quando prestamos sentido a cada momento independente do lugar.

A coisa mais comum nos grandes centros hoje em dia é desenvolver um mapa mental limitado ao roteiro de uma vida cotidiana, isso pode desenvolver um comportamento indiferente na sociedade em geral, tanto aos que vivem em ambientes mais desenvolvidos, assim como, os que vivem em ambientes mais precários de infraestrutura. A palavra que gostaria de utilizar neste contexto é “esforço”, todos devem esforçar-se na direção de ampliar os horizontes de convivência, tudo é válido, praticar assistência social, atividades religiosas, educativas, dentre outras, quando se trata de criar vínculos e encurtar distancias física e emocional. Não somos estrangeiros, somos cidadãos de um país global, de uma aldeia.

Não existe um mundo perfeito, aonde tudo funciona de forma harmônica e sincronicamente perfeito, as relações são entre pessoas e não entre coisas, logo é mais do que natural que haja divergências ideológicas e multiplicidade de comportamento. A modernidade nos desafia a todo tempo, a sermos seres coletivos, diferentes nas ideias, mas homogêneos nas decisões. Estamos construindo uma história que servirá de referência para as gerações futuras e a cada tempo perdido com decisões individualistas que mais nos separa do que nos une, mais tempo perderá a geração futura para construir uma história de progresso linear.

Quando se trata de seres humanos, vale a pena gastar tempo, vale a pena tocar a alma e sentir a essência da vida, é preciso abdicar das ideias mercadológicas quando o assunto é gente. A maior conquista na era da informação talvez seja a quantidade de diferença que iremos fazer na vida das pessoas e não os territórios que iremos “conquistar”. Quando se trata da vida humana, nada é perca de tempo, cada minuto investido no exercício da cidadania é um fator determinante na melhoria da trajetória da sociedade.

A época em que quantidade de bens e conquistas territoriais eram sinônimos de grandeza e superioridade ficou para trás, como disse, o mundo é um país, a multinacionais não encontram mais fronteiras, o capital transita livre e olhar apenas para o próprio umbigo hoje é projetar um futuro trágico sócio economicamente, o mundo está assim, a realidade é essa, vivemos na era do “face to face”.

sexta-feira, 8 de março de 2019

REFLEXÃO: Fronteiras do Pensamento


Fonte de inspiração do texto: Entrevista com Zygmunt Bauman ( https://youtu.be/POZcBNo-D4A )


Estamos vivendo na era da informação, aonde os impactos exercidos pelas inovações tecnológicas são sentidos em todas as camadas sociais de diversas formas. É o mundo pós-moderno, com suas complexidades e desafios que quer queiramos ou não somos postos diante dos mesmos para enfrenta-los ou nos darmos por vencidos.

Nota-se que a condição social do mundo pós-moderno está fragmentada, o distanciamento entre as pessoas é real, é possível estar em meio a uma multidão e ainda assim sentir-se sozinho, sem afeto, sem atenção, sem cuidado e amparo em suas diversas formas. O projeto de vida que as pessoas estabelecem para si mesmos tem como característica preponderante o individualismo e o curto prazo; é raro encontrar alguém que esteja pensando a médio e longo prazo ou talvez seja raro encontrar alguém pensando. Me parece que a ideia de projeto de vida é algo ultrapassado e incomum para os dias de hoje, esta é a identidade da sociedade atual, apego ao imediatismo, superficialismo e individualismo; pensar em responsabilidade é a última coisa que alguém gostaria de assumir na era da informação, no mundo pós-moderno.

As constantes mudanças em que a realidade social e natural encontra-se é fruto de um conjunto de coisas, tais como, o advento da tecnologia, a não importância dada a preservação ambiental, assim como, a falta de interesse pelo que é nobre em um estilo de vida e forma de pensar. Desta forma a ordem social é direcionada a caminhos tortuosos e sem volta, talvez seja possível reconstruir, mas deixar de colher os frutos de algo que foi plantado seria aqui pregar uma utopia, a ordem natural das coisas é lógica e fria, dificilmente se negocia.

A convivência humana chegou em alguns casos ao seu limite, guerras e mais guerras bélicas foram e ainda estão sendo travadas, mas talvez a maior tragédia que a convivência humana tenha passado ou está passando é o abandono da concepção de que somos seres gregários e que dependemos uns dos outros naquilo em que a sociedade se caracteriza como sociedade, ou seja, nos relacionamentos e convivência civilizada. Notem que o mundo hoje é um único país, a globalização derrubou uma série de barreiras e naturalmente as distancias entre as nações. Consequentemente as pessoas não sentem saudade como antes sentiam, basta uma ideia ou uma iniciativa e lá está uma possibilidade aberta pela tecnologia, enfim, é “possível estar perto mesmo estando a quilômetros de distância”.

Pensar a longo prazo me parece ser uma condição não perene para os dias de hoje, este aspecto é uma contradição a existência humana uma vez que não fomos criados para amanhã ou daqui a um mês como ocorre com alguns insetos deixar de existir. Diante disso pensar nas questões ambientais como condição sine qua non é um aspecto preponderante para a vida humana; plantar o amanhã a luz do que se vive ambientalmente hoje é viver de forma inteligente e até mesmo estratégica, pois como humanos que somos é evidente que dependemos que o mundo natural esteja funcionando em sua plenitude. É importante salientar a luz do pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant que a natureza é regida por leis que naturalmente atuam agindo e reagindo de forma proporcional à como é tratada.

O desenvolvimento tecnológico tem sido um elemento estratégico para a humanidade como um todo, os avanços na medicina, engenharia, física, dentre outras áreas nunca foram tão longe como na era da informação. Ao mesmo tempo as relações sociais desta mesma era sofreu alguns impactos que me parece ter sido um viés contrário aos benefícios das áreas mencionadas acima, ou seja, as relações humanas tornaram-se mais evasivas e superficiais, o mau uso das ferramentas tecnológicas não respeitam os limites morais e éticos e com isso a própria democracia é afetada ao ponto de termos vidas sendo ceifadas por conta de boatos infundados que surgiram no seio de uma comunidade. Posições políticas são desrespeitadas, famílias são postas umas contra as outras e países são divididos dentro do seu próprio território. Aonde estamos e aonde iremos parar no tocante a democracia e ao convívio civilizado?

O poder e a política parecem não mais dialogar, aonde há excesso de poder a política fica em segundo ou terceiro plano; aonde há uma política de manutenção de poder não há gestão e com isso a sociedade sofre as consequências em suas realidades mais sensíveis como a falta de saúde, educação, segurança e emprego, que, por conseguinte desaguam em forma de crise no contexto de bem-estar da nação. Talvez seja possível dizer que a democracia global esteja em crise, em decadência e me parece que a solução não passa por uma proposta global, engessada, formulada em gabinetes sem considerar as subjacências de cada realidade social em seu contexto cultural e político. A história deixa claro que democracia se adquire ao longo do tempo e o amadurecimento político democrático é fruto de um exercício coletivo, harmônico, ético e digno.

A autonomia individual é um elemento gerador de dignidade e equidade, os indivíduos que são indivíduos somente por viverem em comunidade não podem deixar de viver a luz da cooperação mutua necessária para combater o totalitarismo seja político ou social. Nunca se fez tão necessário alimentar-se do que edifica, do que nos lança para o futuro, para a frente, do que nos auxilia na colheita de longo prazo no campo social, físico e mental. As mídias sociais, a TV e outras ferramentas do entretenimento não são garantias nem muito menos alimentos sólidos capazes de nos nutrir e evidenciar maturidade e segurança política e democrática.

Qual a condição global do indivíduo hoje? Certamente não é de bem-estar. Não seria, sendo que fica cada dia mais evidente que a proposta parte inicialmente da estabilização do mercado para depois se chegar ao indivíduo, veja que por esta ótica o bem-estar individual já está em segundo plano, essa proposta política e econômica é talvez fruto até mesmo das relações que estão sendo construídas por meio das redes sociais, ou seja, relações sem vínculos duradouros e que facilmente podem ser quebradas ou desfeitas na medida em que não mais tenho nenhum interesse em comum com os que do outro lado estão; quero dizer, enquanto dependo de você haverá reciprocidade, no entanto ao atingir meu propósito digo-lhe muito obrigado ou talvez nem me seja necessário despedir-se, simplesmente rompo com a relação com um simples clique em um botão virtual.

Liberdade, segurança, felicidade, dignidade, são palavras e qualidades que estão longe de serem uma realidade para o individual da pós-modernidade. Primeiro vale ressaltar a grande ambivalência existente entre a liberdade e a segurança, ambas estão intimamente ligadas, pois na medida em que priorizo obter a liberdade em maior grau, se faz necessário abrir mão de parte da minha liberdade e vice-versa. No tocante a felicidade, caberia perguntar o que de fato me faz feliz ou o que é felicidade, pois acredito não haver uma receita que seja padronizada para todos os seres humanos, portanto é possível que seja mais prático estabelecer uma condição social por meio da política em que a dignidade geral da nação seja mantida intacta e assim deixar que cada um estabeleça sua condição de felicidade.

Considerando que não existe uma solução perfeita para nada neste mundo desajustado, aonde as leis naturais agem e reagem na proporção em que são impulsionadas assim o fazer, é preciso dialogar, construir pontes ao invés de levantar muros e barreiras que impeçam o avanço da civilização, afinal de contas como disse em alguns parágrafos acima, somos um país global e o que uma comunidade sofre aqui ou ali, esse país global inteiro em algum momento sofrerá os efeitos e as reações advindas de tal fenômeno.

O destino de cada pessoa, de cada nação ou comunidade certamente passa primariamente pelo que é plantado no campo da subjetividade, quero dizer, pelo caráter. É o caráter individual que forma o pensamento coletivo por meio da influência e do exemplo, cada um determina, cria sua própria realidade em consequência de suas escolhas e projetos de vida, cada um cria sua própria felicidade, não podemos perder nossa individualidade nem muito menos acreditar que será com base na forma de viver, se vestir e falar do outro replicada a minha vida que irá estabelecer minha felicidade e condição de bem estar, há um mundo perfeito com as minhas medidas aguardando minha chegada, mas somente o alcançaremos se tomarmos os caminhos da honestidade, hombridade, respeito, ética e coletividade.

SÍNTESE do TEXTO: A Escola de Frankfurt


Texto de: Janine Regina Mogendorff


Teve início em 1923, caracterizado como um Instituto de Pesquisas Sociais e vinculado a Universidade de Frankfurt. Os nomes mais conhecidos eram o de T. W. Adorno, M. Horkheimer, E. From e H. Marcuse. Apesar de teoricamente marxista, um novo projeto conhecido como teoria crítica surgiu de forma contundente.

Havia uma predisposição e grande identificação da população com as teorias socialistas e comunistas, logo as portas foram abertas para o ensino do marxismo e do movimento operário. Em 1933 o Instituto foi fechado por questões políticas e ainda no mesmo ano foi reaberto agora na cidade de Genebra na Suíça e em 1934 foi transferido para Nova York-EUA.

Fundamentada em Marx, Freud e Nietzsche, a teoria crítica foi se desenvolvendo incialmente com a crítica ao desenvolvimento industrial cultural. Em 1960 surge a designação “Escola de Frankfurt”, e todos os seus pensadores eram múltiplos, ligados a diversas áreas do saber; não demorou muito e perceberam a crescente importância dos fenômenos de mídia e da cultura de mercado na formação do modo de vida contemporâneo.

Em 1944, Horkheimer e Adorno lançaram uma obra que em sua essência gostaria de saber por que a humanidade mergulhava num novo tipo de barbárie em vez de chegar a um estado autenticamente humano, referindo-se aos novos comportamentos de consumo geral da época; foi possível identificar um ataque feroz a satisfação dos desejos até então evidenciados pelo comportamento humano.

Para os frankfurtianos, o fato de que o mercado vai apontar quais são os valores culturais que precisam ser “adquiridos”, determina falsamente a ideia de satisfação.

Para Adorno e Benjamin, tudo aquilo que vai ao encontro do presente e possibilita mudança é considerado atualidade. Adorno afirma que a cultura de mercado seria nada mais do que uma forma de controle social. Em suam, Adorno propunha um olhar sempre crítico sobre os fenômenos da indústria cultural, e por vezes não lhe foram poupadas as críticas por se alegar descontextualização de sua parte juntamente com a Escola de Frankfurt.

Os frankfurtianos teve em Umberto Eco, um de seus mais implacáveis críticos; Eco caracterizava os frankfurtianos como apocalípticos, os acusava de difundirem conceitos-fetiche. Eco afirma que o grande erro dos frankfurtianos é pensar que a cultura de massa seja radicalmente má, justamente por ser um fato industrial. Um outro autor vai ainda mais longe em sua crítica a Escola de Frankfurt, J. M. Barbero a associa ao nazismo justo pela sua performance radical motivada pelos seus pensadores.

Apesar das fortes críticas sofridas especialmente nas décadas de 70, 80 e 90, Rüdiger acredita que tudo não passava de um falso entendimento dos críticos da Escola de Frankfurt, pois eles não eram contra a cultura popular nem a tecnologia, mas sim ao sistema.

SÍNTESE do TEXTO: Rethinking Critical Theory


Texto de: Joe L. Kincheloe


§  Repensando a teoria crítica e pesquisa qualitativa

Kincheloe classifica a teoria crítica como perigosa pelo tipo de informação e insight que produz no campo da pesquisa qualitativa.

A teoria crítica foi desenvolvida após a primeira guerra mundial, aonde o contexto na Alemanha especificamente era marcada pela depressão da economia, alta inflação, desemprego, greves e protestos fracassados e teve como fonte de reflexão o pensamento de Marx, Kant, Hegel e Weber. Considerar esse contexto é de suma importância para entender algumas proposições desta teoria. A vivencia na cultura americana dos fundadores da teoria critica os deixam perplexos ao compararem com sua realidade anterior e foi neste contexto que eles produziram suas principais obras.

Giroux afirma que as escolas podem se tornar instituições onde formas de conhecimento, valores e relações sociais são ensinados com o propósito de educar jovens para a capacitação crítica em vez de subjugação; esta afirmação lhe rendeu duras críticas.

A teoria crítica atual está preocupada, em particular, com questões de poder e justiça, a maneira como a economia questões de raça, classe e gênero, ideologias, discursos, educação, religião, e outras instituições sociais, e dinâmicas culturais interagem para construir um sistema social.

SÍNTESE do TEXTO: Social Constructionism, Conformism Or Critique


Texto de: Michael Crotty


§  Construcionismo social

Geertz afirma que sem cultura, não poderíamos funcionar. A cultura tem a ver com o funcionamento. Como consequência direta da maneira pela qual nós humanos evoluímos, dependemos da cultura para direcionar nosso comportamento e organizar nossa experiência. A cultura é melhor vista como a fonte e não como o resultado do pensamento e comportamento humanos. Fish nos disse que as instituições que constituem nosso sistema de inteligibilidade publicamente disponível nos precedem.

Quando vemos pela primeira vez o mundo de maneira significativa, estamos inevitavelmente vendo-o através de lentes concedidas a nós pela nossa cultura.    

O que distingue o Construcionismo, colocando-o contra o objetivismo inerente à postura positivista, é o entendimento de que toda realidade significativa, precisamente como realidade significativa, é socialmente construída.

Giddens afirma que, enquanto os humanos não criam o mundo natural, mas têm que dar sentido a um "mundo que já existe", a própria existência dos fenômenos sociais provém da ação humana. Para Blaikie, o mundo social já é interpretado antes que o cientista social chegue." O que Blaikie diz sobre o mundo social também é verdade sobre o mundo natural: as pessoas desenvolvem significados juntos e isso já é interpretado antes que o cientista chegue.

É possível concluir que nascemos, cada um de nós, num mundo já interpretado e é ao mesmo tempo natural e social.

§  Conformismo ou crítica

Na visão de Giddens e Blaiki o cientista natural constrói conhecimento do mundo natural ao se envolver com ele no modo científico, mas o mundo social já é interpretado "antes que o cientista social chegue". Entendimentos herdados e predominantes tornam-se nada menos que, na frase consagrada pelo tempo de William Blake, "algemas perdoadas pela mente".

Ortega y Gasset descreve os significados herdados e prevalecentes como "máscaras" e "telas" e nos adverte que, em vez de nos envolvermos com o mundo, nos encontramos "vivendo em cima de um mundo". Patricia Benner vai afirma que nenhum tribunal superior para o indivíduo existe do que significados ou auto interpretações embutidas em linguagem, habilidades e práticas.

O mundo do teórico crítico é um campo de batalha de interesses hegemônicos. Neste mundo existem disparidades marcantes na distribuição de poder: algumas pessoas têm poder dominante; outros têm muito menos poder; a maioria não tem poder algum. Em suas origens e seus pontos altos, o pragmatismo tem mais do que o suficiente em comum com a fenomenologia e a teoria crítica para que o diálogo frutífero aconteça.