quarta-feira, 12 de junho de 2019

REFLEXÃO: Eu não sabia... eu era feliz!



Eu era só um menino que gostava de passar tempo no pequeno chão de terra que meu avô Manuel possuía nas proximidades da cidade de Ribeira do Pombal, estado da Bahia. Feriados, finais de semanas e o período de férias escolares eram certos que lá estaria; participando da rotina dos meus avós no campo. Moía o milho para fazer cuscuz, dava milho para as galinhas, colocava milho molhado para a égua branca de nome morena que meu avô tinha a muitos anos, apartava o gado juntamente com meu avô a partir das 16hs, sem esquecer de coloca-los para beber água em um tanque próximo ao curral aonde estes passavam a noite, enfim, eram dias maravilhosos, simplesmente inigualáveis, e assim tomei conhecimento de muitos saberes da vida no campo.

Fui orientado desde cedo que para ser gente eu tinha que saber das coisas, nossa e como procurei saber das coisas, hoje percebo que sei até de mais das coisas, mas quantas coisas eu não gostaria de saber, pois elas me trazem algumas lembranças tão estranhas que não gostaria de saber mais delas, gostaria que elas não mais existissem, mas elas insistem em fazer parte do meu saber, mesmo que eu não as convide para o meu pensamento.

Há outras coisas que sei que me trazem bons sentimentos, alegrias, regozijos, e como gostaria que eles sempre estivessem em minha mente tomando as 24 horas do meu dia, os sete dias da semana, os trinta dias do mês, ou seja, todos os dias da minha vida, mas estes parecem rebeldes e quando penso que não se vão, as vezes escondem-se e nos deixam sozinhos, parecem não serem nossos, se vão sem pedir licença e sem dizer adeus.

 Não poderia deixar de dizer que também há saberes que quero muito tê-los mesmo sem que tivessem me dito que deveria tê-los, eles simplesmente surgiram, talvez por contemplar as experiências de outros, por ter visto algo pela TV, por ter ouvido no rádio, por ter lido no jornal ou ter conversado com um estrangeiro, mas eles se parecem tão difíceis, as vezes tão impossíveis que nem sei mais se é interessante mesmo conhece-los, tê-los, desfruta-los.

Para que “saber” mesmo?

quinta-feira, 16 de maio de 2019

REFLEXÃO: Ética e Cultura Hacker





Fonte: BONILLA, Maria Helena. Software livre e formação de professores: para além da dimensão técnica. In: FANTIN, Monica; RIVOLTELLA, Pier Cesare (orgs.). Cultura Digital e escola: pesquisa e formação de professores. Campinas, SP: Papirus, 2012.



Pensar em ética e cultura hacker hoje significa uma quebra de paradigma. Aquele conceito um tanto quando enigmático e pejorativo deu lugar a um conceito amplo de democratização de acesso à tecnologia e ao conhecimento de forma ampla e construtiva de tal forma que venha a engendrar capacidade e engajamento ao sujeito do século XXI.

Imaginar uma escola desarticulada no contexto das tecnologias digitais, sem usufruir de suas potencialidades, é prever um futuro de certa forma comprometedor aos cidadãos que dela necessitam para parte de sua formação educacional. A ética e a cultura hacker na forma de uma tecnologia digital perpassam de forma significativa pelas dimensões cultural, política e filosófica. A mensagem acima de tudo subjetiva que a cultura hacker transmite é de uma insatisfação com o modelo capitalista impregnado na sociedade, onde a ideia de colaboração, criatividade e libertação dos padrões instrumentalistas excludentes são mais do que nunca necessária.

No entanto é importante reconhecer que as coisas não são tão fáceis assim. Considerando a forma e o contexto das relações sociais presentes, onde as amarras do capitalismo mantem-se hegemônico na condução das relações sociais e vão padronizando a cultura ao seu modo de pensar e agir, chama-nos a atenção a importância de uma ação coordenada, persistente e estratégica para se contrapor a esta realidade hegemônica. Adotar o software livre apenas por adotar, sem um plano, no caso da educação por exemplo sem a formação adequada para os professores, isto é, sem formação continuada e ampla, assim como, ampliação do escopo de acesso as tecnologias digitais na área educacional, é ter a certeza de que diante das primeiras dificuldades haveremos de desistir, pois a ideia do difícil e complexo manuseio do recurso é real, principalmente comparado com os modelos convencionais ofertados pelo modelo proprietário.

As práticas sociais enraizadas no capital estão postas, elas têm uma forma, uma característica, que desde já afirmo, nada democrática nem muito menos colaborativa e de bem-estar geral; resta-nos interpretar, identificar quais forças nos impede de mudar esta realidade e propor teoricamente e na prática, meios de subjugarmos o que nos oprime. Creio que uma dessas formas é o adequado e articulado uso da ética e da cultura hacker.


terça-feira, 7 de maio de 2019

REFLEXÃO: Tecnologia Assistiva



Fonte: BERSCH, Rita. Introdução à Tecnologia Assistiva. Assistiva.Tecnologia e Educação, Porto Alegre, RS: 2017.


Esta semana eu fiz duas grandes e significativas descobertas, a primeira foi sobre a diferença entre “solidão” e “solitude”, ou seja, percebi que sempre me confundia na hora de aplicar a palavra solidão para determinados contextos que na realidade se requeria ou se referia a “solitude”, e que ambas estão praticamente em sentidos opostos apesar de se utilizarem do mesmo “ambiente/situação”; mas enfim não é o caso da minha proposta reflexiva, portanto não gastarei mais tempo para conceituar ou descrever detalhes a respeito, o que quero é afirmar que a vida é uma constante descoberta. A segunda descoberta foi a respeito do objeto de reflexão desta reação, isto é, “tecnologia assistiva”, até então já havia presenciado situações e visto nas mídias algo relacionado, mas não tinha um conhecimento teórico a respeito.

Notem que em um determinado ponto do parágrafo anterior me refiro e vida como “uma constante descoberta”, desta forma, meu ponto de partida nesta reação é justamente esse movimento inerente a vida humana. Veja, em meu entendimento nenhum ser humano veio ao mundo, a despeito da situação física e ou cognitiva, para ser ou estar limitado ao que física ou cognitivamente a vida lhe impôs por alguma razão natural ou situacional intencional, ou talvez uma variável incontrolável. Incontestavelmente a dignidade é para todos, e o potencial da tecnologia assistiva neste contexto é expressivo.

A sensação de realização move a vida humana, me recordo de inúmeros casos pessoais desde minha infância até o dia de hoje, onde pude indescritivelmente sentir-me feliz e realizado por alcançar determinados objetivos de um simples check-list de tarefas, ou seja, ter a sensação de que podemos alcançar algo mesmo estando limitados física ou cognitivamente é estupendo.

Aquilo que é impossível para alguém com deficiência, torna-se possível por meio das tecnologias assistivas e naturalmente um novo mundo se apresenta para os que até então foram limitados pela falta da tecnologia em si ou até mesmo pela falta de interesse dos que lhes rodeiam. Sim, vejo uma infinidade de possibilidades de proporcionar dignidade por meio dos recursos da tecnologia assistiva aos que estão limitados por uma deficiência, mas vejo também vejo um universo de impossibilidades quando me omito de ser o condutor, a ponte que ligará o necessitado a sua realização pessoal. A tecnologia está aí para transpor os limites mais complexos, mas a disposição humana dos que estão em melhores condições de que outros é uma condição sine qua non para que haja materialidade.

Independência, qualidade de vida e inclusão social são possíveis sempre que nos propomos a sair da nossa zona de conforto e, como auxilio podemos dizer que hoje temos a tecnologia assertiva para fazer frente a esta grande obra de emancipação dos que possuem uma deficiência que os limitam em seu processo desenvolvimento físico, intelectual e social.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

REFLEXÃO: Políticas públicas de educação e TIC




Fonte:
BONILLA, M., PRETTO, N. - Política Educativa e Cultura Digital, Entre Práticas Escolares e Práticas Sociais;
BONILLA, M., PRETTO, N. - POLÍTICAS BRASILEIRAS DE EDUCAÇÃO E INFORMÁTICA;
TIRAMONTI, Guillermina - Escuelas PROA;
Velasquez Gavilanes, R. - 2009 - Hacia Una Nueva Definición


Ao que parece, as práticas sociais do presente século são dadas majoritariamente no contexto da cultura digital, ou seja, as relações econômicas, profissionais, acadêmicas, políticas, etc., quando não plenamente estão dentro deste contexto, pouquíssimos fatos ainda ocorrem fora dela, aspecto que torna a cultura digital uma realidade social na qual jugo ser importante conhecer os elementos que fazem parte da mesma, agregar as devidas competências para transitar dentro dela, assim como, formar senso crítico equilibrado para julgar o que dela será agregador ou desagregador no tocante a cidadania.

Neste sentido fico refletindo sobre os alunos do sistema escolar brasileiro que estão sendo preparados pela escola para ser os cidadãos de amanhã, ou seja, recebendo as contribuições da escola para sua emancipação. A ausência das políticas públicas educativas que potencializem o processo de emancipação desse sujeito passa a ser um fator preponderante para uma formação deficitária, pois é notável que a realidade social brasileira é desigual e a classe mais pobre economicamente necessidade de maior atenção por meio das políticas públicas sociais, ou seja, enquanto os alunos que possuem melhor condição social, recebem um ensino e uma estrutura apropriada para prepara-lo para a realidade atual, o indivíduo da escola pública pena para performar de maneira satisfatória frente aos desafios acadêmicos que lhe são impostos pela cultura impositiva tradicional enraizada no sistema escolar público brasileiro.

Não basta querer fazer política pública educacional apenas por fazer e “sair bem na foto”, é preciso fazer de forma articulada, comprometendo os diversos setores governamentais e agentes políticos e sociais potencialmente capazes de contribuir com tais políticas. A história nos mostra inúmeros projetos e programas que acabaram sem alcançar os resultados previstos, outros sequer puderam ser avaliados os resultados, pois foram extintos ainda no meio do processo de implementação, o que fica evidente a falha no processo de implantação e gestão. Um outro olhar também pode ser lançado por exemplo no contexto do professor, que não recebe a devida atenção e quando diante dos projetos de cunho tecnológicos se veem inoperantes diante de uma dinâmica estranha a sua formação e atual condição técnico-profissional. A articulação que menciono acima passa também pela inclusão deste que é peça estratégica e fundamental para o sucesso das políticas públicas educacionais, sejam elas de cunho tecnológico ou outro qualquer que ocorra no seio escolar. A formação continuada é uma condição sine qua non para a adaptação do professor as novas convergências, assim como, para o sucesso dos projetos e programas decorrentes das políticas educativas, são por meio dela que se diminuem as distancias percorridas entre o ponto de partida e o ponto de chegada dos objetivos estabelecidos, e acima de tudo da emancipação do aluno como maior deles.

Por fim, é essencial também preparar a escola para o processo de mudança, de convergência, de promotora da cultura digital, ou seja, não basta adquirir caminhões carregados de equipamentos tecnológicos e os descarregarem em uma sala que ficará fechada a sete chaves aguardando a boa vontade de alguém para dar destino aos mesmos. A educação não aceita a gestão do “faz de conta”, ela cobra quando não é conduzida com o devido cuidado e atenção; se tem equipamento tecnológico, logo é essencial que se tenha boa internet, caso contrário o destino é a obsolescência; se investiu em infraestrutura pesada é preciso torná-la funcional ou então teremos “elefantes brancos” espalhados pelas áreas da escola que servem mais de “cartões postais” para selfs dos alunos do que meios que auxiliam no processo de ensino e aprendizagem.

Mais do que inconveniente, penso que seja imoral conduzir o sistema público de ensino fora da proposta de preparar o aluno para atuar de forma plena na era da cultura digital. Pensar e agir diferente dessa proposta é decretar a sua permanência na atual condição socioeconômica e sem possibilidades algumas de sonhar e lutar por uma experiência até então nunca vivida, senão apenas contemplada na vida de outros que foram melhores atendidos por suas heranças familiares e de políticas públicas hegemônicas direcionadas ao bem-estar de uma classe só, certamente não a que mais necessita delas.


terça-feira, 16 de abril de 2019

REFLEXÃO: Convergência




Fonte: SANTAELLA, Lucia. Comunicação ubíqua, repercussões na cultura e na educação. São Paulo, Paulus, 2013. Cap. 11



A transição da “realidade social analógica” para a “realidade social digital”, impõe alguns desafios aos atores desse contexto, tais como absorver e adaptar-se a essa nova realidade de maneira tal que não sejamos e não nos sintamos ultrapassados nesta nova ordem mundial.

Tudo passou a sofrer influência das tecnologias digitais, saúde, segurança, trabalho, educação, etc.; ainda há aspectos que podem ser considerados “analógicos” no cotidiano da humanidade, mas é cada vez mais evidente uma forte convergência para uma realidade cada vez mais digital. Acredito que ambas as realidades conviverão juntos por muito tempo, no entanto sou levado a pensar com base em algumas experiências pessoais, de que nos dias de hoje é impossível atuar em uma das áreas mencionadas acima, apenas dominando os padrões analógicos humanizados, pois muito das burocracias e processos destas áreas são hoje operadas via um elemento digital.

A ideia de emancipação do sujeito no contexto analógico não necessariamente se aplica ao contexto da realidade digital. A convergência de uma realidade para a outra impôs algumas mudanças naturais a este conceito e processo, é como se o cidadão politicamente emancipado de 30 anos atrás tivesse que correr atrás para se adaptar e agregar novas formas de atuar na era das tecnologias digitais para manter-se emancipado, pois na medida em que a maior parte das relações sociais se dá sob a influência desta se faz necessário estar inserido para exercer sua influência e ter voz ativa politicamente.

O ponto de reflexão que gostaria de levantar é a respeito dos limites e reais necessidades de convergir junto com a realidade social, ou seja, até onde se faz necessário acompanhar este processo, o que é saudável e ao mesmo tempo emancipador ou não. É uma questão de ser feliz, de necessidade ou de ambos aspectos? Há algumas contradições, aposto que se eu perguntasse para meu avô Gabriel Cassiano(falecido de morte natural aos 102 anos no ano de 2016) no auge dos seu 95 anos de idade, o que ele achava de portar um celular todas as vezes em que se deslocasse para a mata montado em sua mula para tocar suas atividades agrárias, a fim de que a nossa familia pudesse localiza-lo com maior facilidade caso houvesse alguma acidente, ele certamente diria que essa ideia era uma tremenda de bobagem, pois um sertanejo não precisa dessas invenções dos mais jovens que vivem na cidade grande. Para ele o conceito de felicidade e necessidade se resumia ao seu território agrícola, rodeado dos seus “companheiros” (gado, cabra, ovelha, cavalo, mula, galinhas, pássaros, etc.,), da familia e da comida típica da região. É uma forma simples e básica de tocar a vida, porém bastante provocadora para nós que vivemos na cidade grande emergidos na realidade social digitalizada.

É interessante notar que ao lado do pedaço de terra que meu avô possuía, havia uma familia que tinha trocado a mula, o cavalo e o jumento pela motocicleta, segundo eles esta era uma forma mais eficaz de tocar o gado ao final do dia quando o sol se punha, assim como, uma forma mais rápida de ir até a cidade para resolver demandas pessoais de diversas ordens. Notadamente aqui temos um contraste em praticamente o mesmo espaço, dividido apenas por uns cerca de 7 arames. Isso nos faz refletir o quão é relativo algumas questões que giram em torno do bem-estar humano, o que para alguns é uma necessidade, uma questão de sobrevivência, para outros não passa de “uma invenção do homem da cidade”, que não tem mínima influencia em seu padrão de vida e nem muito menos em seu projeto de vida futuro.

Enfim, considerando as devidas realidades, cabe a nós ponderar a real necessidade de adaptação e inserção dos elementos digitais em nossa realidade pessoal em qualquer área em que estejamos inseridos em um determinado momento da vida. É importante entender que uma coisa não necessariamente suprime a outra e que haverá momentos em que a depender das circunstâncias teremos que está plenamente engajado na “realidade digital” e ou na “realidade analógica”, e em outros momentos teremos que estar transitando em ambas simultaneamente, penso que tudo vai depender das nossas prioridades estabelecidas para o momento presente.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

REFLEXÃO: Narrativa e temporalidade na cultura midiática



Fonte: FOLLAIN, Vera. Narrativa e temporalidade na cultura midiática. Tríade, Sorocaba, SP, v. 5, n. 9, p. 128-139, jun. 2017.



Quando criança, lembro de que gostava de ouvir histórias de todos os tipos narradas pelo meu avô e pelo meu irmão mais velho. Recordo-me que sempre tive uma pré-disposição para o ouvir, até hoje percebo que muito me satisfaz ouvir o que as pessoas têm a dizer, independente do que seja, percebo que é como um dom natural que recebi da Deus. A minha imaginação fluía e flui com as histórias narradas; costumava viajar além-mar, cruzar fronteiras, me imaginar em lugares distintos, criar imagens de pessoas, animais, lugares e objetos com muita facilidade e agilidade.

Algumas histórias me marcaram nesta aventura da imaginação proporcionada pelas narrativas do meu avô Manuel Araujo (falecido em 2017, aos 92 anos) e do meu irmão Nadson Cassiano (irmão mais velho). Sou um cidadão de origem humilde, simples, um homem do campo, toda minha familia veio do campo, tanto meu avô, assim como, meu irmão mais velho tiveram a oportunidade de visitar a “cidade grande”, por necessidades médicas e pessoais de ordem profissional; sempre quando possível ambos gostavam de me narrar suas experiências na “cidade grande”, ainda que algumas vezes de forma repetida (risos...), mas enfim, foram válidas; o fato é que em decorrência da influência dessas histórias, desenvolvi alguns sonhos que com o passar do tempo se tornaram metas pessoais, tais como, conhecer a cidade grande, viajar de avião, viajar de trem, morar em um apartamento em um prédio de 12 andares, andar de elevador, conhecer um shopping center e andar de escadas rolantes, conhecer o mar, andar na areia da praia, dentre outros. Em contrapartida, como mencionei acima, houve uma situação que me marcou negativamente, ou seja, tanto meu avô quanto meu irmão adoravam me contar histórias que podemos aqui chamar de lendas e mitos regionais, tais como, “lobisomem”, “mula-sem-cabeça”, “encruzilhadas com pessoas falecidas e presas no tempo”, dentre outras tristes e dramáticas; em decorrência disso, percebi que os medos e suspenses oriundos destas narrativas me acompanharam ao longo da vida e algumas delas me traumatizaram, como por exemplo, não costumo me sentir bem quando tenho que participar de um funeral de quem quer que seja, assim como, permanecer em ambientes escuros, etc.

Bom, de certa forma fica claro para mim com base nas minhas experiências, a importância do uso da imaginação principalmente quando se trata daquelas oriundas das narrativas de todas as formas, sejam elas contadas por uma pessoa, por um jornal, um livro, ao vivo, no rádio ou na tv. As narrativas têm seu valor e assim como em todos os aspectos da vida, se faz necessário o devido uso e a adesão da responsabilidade, sabendo que tudo o que se narra alcançará um canal condutor e um receptor e naturalmente exercerá influencia e consequentemente se plantará uma semente.

A minha filha de 4 anos de idade, assim como eu possui grande disposição para ouvir, ela ama ouvir histórias todos os dias, tanto pela manhã como antes de dormir, em minha casa é uma regra pelo menos duas vezes por dia sentarmos e contarmos histórias bíblicas e da literatura para ela, eu e minha esposa nos reversamos nesta tarefa. Mas percebo que há uma inclinação muito forte da minha pequena filha para as questões que envolve TV e Smartphone, e creio que grande parte desta inclinação é em decorrência da nossa influencia como pais que consumimos estes produtos em sua presença. A experiência que posso contar sobre este contexto se deu no início deste semestre, ou seja, todos os dias tenho que levar e pegar minha filha na escola e nos momentos em que tenho que retornávamos para nossa casa, ocorria que eu entregava meu smartphone para ela vir assistindo, e assim eu conseguia fazer com que ela ficasse tranquila na cadeirinha do carro e não teria certo stress no trajeto, com isso, podia ouvir uma música tranquilo e chegar bem para o almoço. Ocorre que com o passar dos dias percebemos que nossa filha ficou viciada com os conteúdos oriundos da internet e seu comportamento também mudou, infelizmente foi uma mudança negativa, seu vocabulário ganhou novas palavras até então desconhecidas da gente, enfim, a experiência não foi muito positiva, tivemos que intervir e isso gerou um certo desgaste; a partir daí elaboramos um plano de desconstrução do que foi desenvolvido negativamente pelo contato com as narrativas oriundas da internet no smartphone e na tv, organizamos melhor o tempo de consumo da internet dela e selecionamos melhor as categorias de conteúdo, assim como, passamos a estar 100% presentes nestes momentos de interação. Hoje ela não mais retorna para casa comigo da escola com o smartphone na mão, sempre voltamos conversando sobre o que ocorreu na escola e sobre algumas questões da nossa realidade familiar, com isso foi possível contornar o problema.

Por fim, concluo afirmando que as narrativas possuem grande poder de influência, o advento e inclusão das imagens demandaram um certo empobrecimento das mesmas e deram origem a uma maior degradação da sua influência para quem a recebe. Por outro lado, uma vez que seja bem canalizado e haja acompanhamento, tem potencial substancial para ser agregador a cultura e a vida como um todo. A modernidade é importante no contexto da emancipação humana, o homem deve acompanhar o progresso técnico sem que necessariamente abandone as práticas fundantes que nos tornam cidadãos civilizados. O progresso técnico e cientifico deve potencializar nossas relações sociais, não devemos nos deixar cegar diante das novidades e possibilidades engendradas por tal progresso, muito pelo contrário, é preciso manter a ética e reconduzir o que está tomando rumos morais e sociais insustentáveis. Ao mesmo tempo que os aspectos tecnológicos não devem suprimir os elementos essenciais da narrativa, este deveria ser agregado ao processo de modernização da emancipação humana, falo de um processo de complementação e não de divisão e supressão daquilo que é agregador e foi positivo na trajetória humana até hoje.  

sábado, 30 de março de 2019

REFLEXÃO: Ciberespaços e tecnologias móveis



Fonte: Ciberespaço e Tecnologias Móveis. Processos de Territorialização e Desterritorialização na Cibercultura - André Lemos



A reflexão que faço sobre o texto gira em torno da excessiva racionalização do homem na busca do controle sobre as movimentações sociais da humanidade. Seja desterritorializando ou reterritorializando; fica evidente a presença intrínseca e em alguns casos explicita da ação do homem em controlar os espaços habitados pelo seu semelhante, seja ele físico ou o ciberespaço da cultura digital. A globalização tem imposto a vida humana um processo natural de migração para os ciberespaços como forma de vida e engajamento, seja social, profissional, acadêmica etc. A pergunta a se fazer é o quanto é necessário e quais os limites desse processo de territorialização, assim como, quais os interesses por trás desta pressão social para se colocar na rede.

Tudo é muito sutil, os mais diversos dispositivos digitais com os quais dividimos o nosso dia a dia, ou até mesmo os utilizamos para conduzir a nossa vida são também instrumentos de mapeamento do nosso perfil social quando registram nossas buscas por algo a ser consumido, ou nos auxiliam em nossos deslocamentos e interações diversas. O autor se refere a este processo como “marcas eletrônicas deixadas na rede”, as quais servirão de base para algo ou alguém em algum lugar seja perto de nós ou a milhares de quilômetros daqui.

Não importa aonde estejamos, seja aqui ou em outro continente, como adeptos da cultura digital, se estivermos dentro do ciberespaço será sempre possível controlar-nos. Neste contexto, os dispositivos digitais ao mesmo tempo que servem como instrumentos que nos auxiliam a superar as barreiras geográficas, as cidades e as fronteiras, logo um instrumento de reterritorialização, passa a ser um elemento chave de controle social.

O ciberespaço tem a capacidade de ao mesmo tempo em que desterritorializa, consegue reterioalizar, e isso vale para os níveis político, econômico, social, cultural e subjetivo. A questão que levanto é justamente os efeitos engendrados desse processo na realidade social existente. A minha grande preocupação passa pela concepção que possuo a respeito da cultural digital ser na maioria das vezes sem limites, a impressão que tenho é que os ciberespaços não levam em consideração os valores pré-existentes no contexto político, econômico, social e cultural e, com isso tende a proporcionar percas irreparáveis na medida em que exerce sua influência.

Tenho consciência da natural pré-disposição do homem em movimentar-se para conquistar e estabelecer-se frente a realidade de que lhe é imposta, mas me preocupo se este está em condições de assumir o controle de todo o processo de desterritorialização e reterritorialização de forma autônoma, veja, T. Hobbes em sua obra clássica “O Leviatã” afirma em outras palavras que “o grande problema da humanidade surge quando o homem resolve pregar uma estaca de madeira ao solo, demarcando um espaço e declarar que a partir de então aquele ambiente era de sua propriedade”; desta forma sou levado a pensar nos desdobramentos propostos pela cultura digital por meio dos ciberespaços.

No verão de 2017, estive em duas cidades espanholas com vistas a conhecer um pouco mais da cultura daquele país. Algo curioso me aconteceu na cidade de Barcelona ao sair de uma determinada estação de metrô e me deparar com dezenas de imigrantes, cidadãos africanos, aparentemente falando o mesmo idioma/dialeto, vestidos basicamente de forma igualitária, cada um possuindo uma espécie de lençol branco que estava dobrado de uma forma particular de maneira tal que ganhava um formato de bolsa ou sacolão aonde eles carregavam ali dentro uma série produtos de diversas características; todos estavam juntos na saída desta estação, sentados a sobra em um dia escaldante, de “forte sol”, cantavam e pareciam se comunicar de forma assertiva naquilo que parecia um dialeto peculiar da sua região de origem. Aquela situação me chamou a atenção, sentei-me a uma certa distância e passei a observa-los, logo percebi que eram africanos do norte do continente por causa de algumas bandeiras típicas que carregavam consigo dos países norte-africanos, notei também que praticamente todos carregavam consigo um smartphone, e vez ou outra se alto registravam como que se estivessem fazendo um self ou até mesmo comunicando-se com sua familia, amigos ou país de origem ou com pessoas de qualquer outra parte do mundo. O que ficou evidente para mim foi que não se tratavam de turistas, pois haviam policiais que os cercavam a todo tempo e a cada movimento individual ou em grupo, estes recebiam “atenção” daquelas autoridades militares, enfim, eram imigrantes que estavam fisicamente e no ciberespaço em meio a tensões sociais procurando a luz da cultura digital, desterritorializar e territorializar.

Bom, precisei seguir meu caminho e alguns dias depois me desloquei até a capital espanhola (Madri), e no percurso que fiz de trem, tomei um periódico para ler e fui surpreendido com uma entrevista de um líder africano de um determinado movimento de apoio a imigrantes africanos, que não só apoiava este movimento, mas combatia toda e qualquer violência física e ou emocional causada pelos países da união europeia aos que estavam segundo palavras deste líder, “apenas tentando recuperar(ou talvez reterritorializar-se no contexto da cultural digital) de forma pacifica a riqueza que um dia os europeus de forma brutal lhes saquearam”. Aquelas palavras me chamaram bastante a atenção e fiquei refletindo sobre os reais interesses por trás da cultural digital ao promover todo este movimento de emancipação do homem no âmbito dos ciberespaços. Aquilo que um dia foi primariamente por meio de navios no contexto do continente Africano e da Europa, hoje ganha mais um possível aliado por meio dos ciberespaços.

Bem, chegando em Madri, resolvi tirar um dia para caminhar pelo centro histórico da cidade, e em um determinado momento ouvi uns gritos e uma pequena correria me despertou, procurei um lugar “seguro”, pois se tratava de uma variável não muito comum para os padrões daquela cidade, mas ao mesmo tempo me pus a observar o que estava acontecendo, percebi que se tratava de dois policiais que enquadrara um imigrante africano acusando-o de furto, a multidão observava a cena e passados alguns poucos minutos logo se dispersara, tomei meu caminho e desci uma avenida no sentido do “Museo Del Prado”, ao qual pretendia visitar naquela tarde, foi quando me deparei com alguns destes imigrantes com suas mercadorias estendidas em cima de um lençol branco em frente a uma estação de metrô e resolvi me dirigir até um deles, foi quando percebi que vendia camisa de times de futebol, comprei uma camisa do Barcelona(clube tradicional da Espanha), e aproveitei para construí um diálogo a partir daquele momento; perguntei coisas do dia a dia, tais como, sobre a familia, futebol, amigos, comida, e finalmente sobre seu país de origem, cidade/aldeia ou tribo de origem; notei que a todo tempo o jovem com o qual desenvolvi um diálogo comunicava-se com outros que ali estavam a poucos metros e espalhados por toda a avenida por meio do smartphone, creio que utilizando a mídia social Whatsapp ou uma outra similar, e percebi que esta atitude era uma espécie de estratégia de proteção aonde eles avisavam uns aos outros a respeito de tudo o que ocorria no raio de presença deles de forma que parecia uma forma de “controlar” a situação e assim nada de ruim pudesse lhes acontecer; logo tive a sensação que o que ocorrera antes no início dessa avenida, talvez tenha acontecido por conta que aquele imigrante se separara do grupo ou quem sabe se descuidara se deixando levar pelo desejo de algo que não lhe pertencia a ponto de tentar se apropriar de forma indevida, conforme anunciara em alta voz os policiais naquele momento.

Dentre as muitas lições que tiro desta experiência, uma das que mais me choca é que perdemos a capacidade de convivência coletivamente, de amar, de respeitar, de valorizar a vida humana. Para mim, sempre fomos uma aldeia global, um mesmo povo, apenas estávamos separados fisicamente por consequência da pré-disposição de conquista quando resolvemos “ganhar o mundo” transpondo os limites da terra, em busca de novas aventuras tendo como pano de fundo o desejo pela conquista, pelo que é novo. Com o advento da globalização (particularmente penso que em grande parte decorrente do progresso intelectual do ser humano), a qual considero como o processo de reagrupamento natural decorrente daquilo que um dia foi homogêneo mentalmente e fisicamente, simplesmente desconsideramos tudo e passamos a nos enxergar como opositores territorialmente e ideologicamente, logo também socialmente. A nossa pré-disposição em conquistar o ainda não conquistado ganha novos ingredientes, ou seja, já que nos encontramos novamente como povo, prevalece o meu pensamento, as minhas ideias, as minhas vontades, a minha forma de vestir, a minha cor, a minha cultura, os meus modos, enfim, se não forma da forma como eu penso, não podemos conviver pacificamente, logo “é melhor que o outro não exista”; se a realidade não for pautada pela minha cultura, minha política, minha economia, meus costumes, meus produtos, não haverá harmonia. De outra forma, não haverá ordem mundial na grande aldeia mundial gerada pela globalização, seja no território físico tal qual conhecemos, seja nos ciberespaços.

domingo, 24 de março de 2019

REFLEXÃO: Cidadania Digital



Fonte: 
PATROCINIO, Tomás. Para uma genealogia da cidadania digital. Educação, Formação & Tecnologias, vol. 1 p. 47-64;
BUSTAMANTE, Javier. Poder comunicativo, ecossistemas digitais e cidadania digital. p. 11-35;
DI FELICE, Massimo. Net-ativismo e ecologia da ação em contextos reticulares.



A despeito da evolução e do percurso histórico dos conceitos de cidadania, quero iniciar minha reação ao texto afirmando que é possível a cidadania em todos os povos. É importante pensar e teorizar a respeito, as delimitações oriundas do exercício do pensar sobre tais fenômenos são essenciais para o avanço social. Ao afirmar que é possível a cidadania, me apego ao elemento da civilidade como um dos fatores determinantes desta possibilidade. A civilidade deve ser um ideal de toda nação, povo e território habitado pelo ser humano; penso ser ela uma condição sine qua non do processo de cidadania. O exercício da civilidade lança as bases fundamentais para se alcançar um nível de cidadania suficiente para dar sustentabilidade social a uma nação, isso não quer dizer que intempéries não surgirão e que desajustes sociais não ocorrerão, mas asseguro que será muito mais fácil superar os problemas sociais na medida em que estas bases estiverem muito bem alicerçadas.

O ser humano é um ser gregário, que possui sentimentos, anseios e desejos que lhes são essencialmente naturais. A vida social lhe é natural, relacionar-se é um fator determinante para o seu desenvolvimento e dar-lhe uma condição social política e jurídica humanizada talvez seja uma condição mínima para o seu melhor desempenho civil. Penso ser indissociável a pessoa do civil no tocante ao ser humano, me parece notória a relação intrínseca destes dois elementos desde seu nascimento, tirar-lhe isso é proporcionar uma ruptura na sua dignidade. O empoderamento sócio-político do ser humano me parece ser um caminho seguro, desde que, em suas bases sejam claras e evidentes a presença do respeito e da liberdade para exercer suas funções civis em seu cotidiano. O contexto político social do presente momento é complexo e tende a tornar-se cada vez mais na medida em que novos estágios vão sendo agregados a trajetória da humanidade, o advento da tecnologia tem proporcionado diversos fenômenos que requerem bastante atenção e sensibilidade principalmente no tocante as relações sociais. Os ciberespaços não devem ser terra de ninguém, e de fato não são, apesar de que alguns optam por viver como se fosse; sabemos que todo processo civilizatório passa por diversos estágios de maturação até alcançar o amadurecimento, no entanto a falta de atenção política e regulação pode gerar percas incomensuráveis na formação civilizatória e, a educação é sem dúvida um elemento chave para conduzir este processo.
    
A cidadania digital não é possível sem ter a educação como sua norteadora, as tecnologias digitais estão aí, são reais e seu movimento é linear e veloz, não podemos negar, tendo em vista este fenômeno fica cada vez mais evidente a necessidade de emancipar os cidadãos neste novo contexto. O mundo é definitivamente um país global, logo, o que ocorre em um hemisfério certamente exerce influência no outro e vice-versa, as interconexões são cada vez mais sofisticadas tecnologicamente e, por conseguinte culturalmente, economicamente e politicamente. Não podemos afirmar que a globalização seja antagônica ao processo civilizatório nem a cidadania humanizada e muito menos digital, muito pelo contrário, ela abre portas, estende pontes e possibilita uma diversidade de todas as ordens nas relações humanas, no entanto se faz necessário como dizia lá em meu interior, “colocar cabestros”, impor limites, domá-la em suas variáveis que se aproximam de “selvagens”, mas ratifico a grande possibilidade de se tirar muito proveito de tudo isso. Notoriamente a globalização engendrou um novo cidadão em nossos dias e me parece que assim será por um bom tempo daqui para frente, é o cidadão cosmopolita, universalista, capaz de estar em diversos lugares ao mesmo tempo sem que necessariamente esteja presente fisicamente, seja economicamente, socialmente ou politicamente é possível transitar digitalmente e o que é mais impressionante, simultaneamente de forma instantânea e eficaz, seja comprando, instruindo, capacitando-se, relacionando-se de um modo geral. É o que para alguns pode-se chamar de cidadania supranacional, ainda que outros não aceitem esta definição, se não isso, muito perto disso estamos; Pode-se alguém pensar que isso seja desvalorizar a cidadania nos moldes que conhecemos hoje, pelo fato de nos distanciarmos fisicamente e perdemos a essência do toque e da química gerada pelos sentidos sensoriais, mas assim como ocorre no mundo da cultura midiática, talvez um modelo de cidadania não substitua o outro, talvez seja possível caminhar juntos, mas para que isso ocorra penso ser necessário regular, propor políticas públicas que perpassem a formação inicial, o acompanhamento e o desenvolvimento destas relações entre os cidadãos, pois de outra forma é possível vislumbrar no curto prazo o enfraquecimento do Estado-nação e este não é um bom sinal política e culturalmente.

Estamos convergindo para o exercício de uma nova cidadania, é a cibercidadania, com todas as suas complexidades, suas possibilidades e acima de tudo seu desafio sociocultural. O que ensinar nas escolas em todos os seus níveis? A adequação do ensino certamente não se harmoniza em sua inteireza com os moldes do século passado, isso não quer dizer que os princípios não permaneçam, mas os métodos certamente devem passar por uma revolução, são universos quase que totalmente diferentes, ao mesmo tempo pergunta-se o que aprender? Quais as prioridades do currículo e qual deveria ser a forma de abordar cada assunto? Veja, é impossível não assumir riscos nesta nova realidade da cibercidadania, os riscos fazem parte da história humana e são de grande valia para impor limites em determinados contextos que se parecem nociveis as relações sociais de bem-estar, mas esta nova realidade pressupõe autonomia, assim como, privacidade, logo talvez seja impossível viver de outra forma. O cidadão da cibercidadania é, como nunca antes fora, cidadão produtor de informação em potencial sem precedentes, e a distância entre ele seu pensamento e a produção de conteúdo não passa do alcance de seus dedos em posse de uma smartphone.

As comunidades virtuais exercem um papel interessante no desenvolvimento desta nova modalidade de cidadania, assim como, nas comunidades físicas elas são pontos de encontros para a criação e desenvolvimento de relações, o grande diferencial talvez seja que é possível haver diversidade, seja de gênero, física ou até mesmo de pensamento, não necessariamente as interconecções podem ocorrer de forma homogêneas, na realidade caracteriza-se mais pela heterogeneidade de todos os aspectos. No entanto há de se considerar que não é impossível que esta realidade virtual se materialize fisicamente, na medida em que as demandas e as relações se intensificam e os interesses se afunilam o que é virtual facilmente torna-se físico em suas mais variadas formas.
     
Definitivamente o conhecimento, a cidadania, a educação e a cultura na era global serão elementos mais do que preponderantes para o desenvolvimento de uma nação em todos os seus aspectos. A sustentabilidade sócio econômica perpassa por estes aspectos, a visão de futuro é ampliada na medida em que novos níveis dentro destas quatros perspectivas são alcançados e, novos degraus são superados. Em decorrência deste contexto penso que estamos diante da necessidade de um novo paradigma educativo, se é que ele já não existe e me falta apropriar-se teoricamente do mesmo; estamos dentro do espaço do saber, aonde tudo é facilmente acessado em suas múltiplas formas, a ciberdemocratização possibilita inúmeras possibilidades educacionalmente, culturalmente e economicamente aos seus concidadãos. As políticas públicas educacionais no contexto das TIC nunca foram tão necessárias como nos dias de hoje e certamente se farão ainda mais necessárias no amanhã.
   
Concluo com a percepção de que estamos vivendo em uma nova cultura de aprendizagem e cidadania, aonde tonar-se um cidadão digital é desafiador, assim como, urgente; e ao que parece possibilitador de novas conquistas contextualizadas aos ciberespaços. Em harmonia com este pensamento, percebe-se que o elemento básico para usufruir destas novas experiências tecnológicas é estar aberto e ter uma visão crítica-construtiva e inslusiva desta nova realidade e no campo da educação isso implica primordialmente na implantação das novas TIC em forma de políticas públicas.

domingo, 17 de março de 2019

REFLEXÃO: Cultura midiática, Mídias digitais, Substratos da Cibercultura


Fonte: SANTAELLA, L. - Culturas e artes do pós-humano (Cap. 2, 3 e 4)


CULTURA MIDIÁTICA

Considerando a realidade social econômica, política e cultural do mundo em pleno século XXI, qual seria a condição atual da cultura midiática? Qual o lugar ocupado pela mesma no atual momento? Antes de discorremos sobre o tema, é importante considerar o que escreveu SANTAELLA, de que há duas concepções básicas de cultura, as humanistas, e as antropológicas.

Até meados do século XIX, havia no ocidente um delineamento entre as culturas eruditas das elites e a popular oriunda das classes dominadas. Ambas foram fortemente impactadas com o advento da cultura de massas, que teve origem nos meios de reprodução técnico-industriais. Uma tendência natural neste movimento seria dissolver a polaridade entre os dois lados e, por conseguinte anular suas fronteiras, daí o surgimento de tecidos híbridos nas culturas urbanas.

A partir da revolução industrial ficou cada vez mais complicado determinar os códigos, as formas e gênero da cultura e isso se deu com o advento da fotografia e do cinema, assim como, de algumas peculiaridades da arte moderna. Isso não quer dizer que houve um desaparecimento dos aspectos tradicionais da cultura. A cultura humana é cumulativa, apesar de não ser linear, mas ela persiste, o artesanal não deu lugar ao industrial, nenhum dos outros aspectos da cultura deu lugar aos novos trazidos pela cultura de massas. O que prevaleceu foram as novas alianças, novos formatos.

Um detalhe interessante é que há na cultura, meios de comunicação que executam um papel ambíguo no tocante à cultura, ao mesmo tempo em que a produzem, também tem a capacidade de divulgar outras formas e gêneros da cultura.

No contexto da cultura pós-moderna a cultura midiática é um elemento preponderante na aceleração, ampliação e transnacionalização do processo cultural.

MÍDIAS DIGITAIS

Em linhas gerais, falar de mídias digitais é fazer referência aos meios de comunicação de massa, tais como, jornal, rádio, revista e televisão. As mídias digitais causaram uma revolução cultural profunda nas sociedades, logo é possível concluir que este movimento tende a continuar revolucionando contextualizadamente na medida em que haja o surgimento de novos meios de comunicação. Penso ser importante salientar que nenhum meio de comunicação atua de forma isolada, eles sempre estão engajados ideologicamente de uma forma ou de outra. Os ciclos culturais são em sua maior parte oriundos dos novos meios de comunicação.

Na visão marxista existem arenas de luta de classes no interior de toda cultura, sua concepção sociopolítica afirma haver uma tensão constante entre os dois lados.

Acredita-se que a globalização é devedora das poderosas tecnologias comunicacionais atuais. A revolução digital está batendo às portas do mundo. A era digital trouxe consigo uma forma comunicar e produzir informação nunca antes vista. Há uma fusão sem precedentes dos meios de comunicação e com isso o eminente surgimento de sistemas híbridos de comunicação ganham espaço e aceleram ainda mais o processo de mudanças na cultura, perpassando desde os aspectos mais simples até os mais complexos da sociedade.

O capitalismo naturalmente se lança sobre todo este movimento e se impõe como expressão catalizadora de toda a revolução do ciberespaço oriundo dos avanços tecnológicos. No entanto, seria utópico acreditar que tudo se restringe apenas ao contexto tecnológico, forças políticas e culturais também se aproveitam de todo esse movimento. As novas tecnologias são formatadas sob metida, visando alcançar propósitos políticos, pessoais e organizacionais. Tendências oligopolistas ficam cada vez mais evidente na medida em que muitas empresas vão se dilatando no âmbito da comunicação em geral, em contrapartida o Estado não se opõe em nada para agir neste ciberespaço e evitar uma derrocada sem precedentes do lado mais fraco, as empresas com menor porte e a sociedade socialmente carente.

O capitalismo digital deixa bem claro quais são suas regras, se você não faz parte da aliança que estabeleço, apenas aguarde o seu fim, ou se junta a nós sob as nossas condições ou esteja convidado a não fazer parte do movimento global do novo comercio. Não há o que duvidar, os ciberespaços da atual era tem suas regras ditadas pelo capitalismo, ainda continuamos com a mesma realidade de séculos atrás, uma minoria continua detendo a riqueza e o poder. Isso não quer dizer que nada pode ser feito e nem muito menos esta realidade será alterada, não foi possível pelos meios de massa, mas no contexto dos ciberespaços ainda há brechas e vãos para a comunicação e estes espaços necessitam serem ocupados o mais rápido possível pelos intelectuais e educadores que almejam uma realidade sociocultural distinta da implementada até agora.

SUBSTRATOS DA CIBERCULTURA

Ainda há algumas dúvidas se cibercultura e cultura digital podem ser consideradas a mesma coisa, penso que sim, no entanto creio que não há nenhuma dúvida de que este movimento traz consigo novas formações sócios culturais e que o pós-modernismo encontrou definitivamente sua a face que lhe é própria.

Como estamos descrevendo desde o princípio desta reflexão, ou seja, a cultura midiática inicia sua escalada por meio da cultura de massas, mas é na cultura digital que ao que parece ela se consolida. Ao contrário do que parece, o momento é de sincronização de todas as linguagens e de todas as mídias inventadas pelo ser humano. A televisão e sua peculiar característica de apenas transmitir informação sem interagir ainda permanece, o homem torna-se cada vez mais despersonalizado sobre a influência das difusões midiáticas sem compromisso com a formação social homogênea, ou seja, nada do que ocorre hoje na cultura digital tem origem no acaso.

A cultura digital trouxe consigo um tecido cultural hibrido, não houve uma passagem de uma era cultural para outra, elas se sobrepuseram e também se tornaram cada vez mais densas. A nossa relação com as máquinas ganhou uma nova perspectiva a partir dos anos 80, quando as novas tecnologias proporcionaram uma experiência distinta tal como a interface nos computadores, logo nos tornamos usuários e não mais apenas receptores, daí nasce a cultura da velocidade e a nossa interação com as máquinas são intensamente humanizadas.

O que conhecemos hoje como rede interligada de máquinas e computadores pode ser considerado como o ciberespaço e as interfaces estão intrinsecamente presentes neste contexto, portanto se o ser humano está plugado nesta rede, podemos afirmar que a tecnologia está incorporada no mesmo. Muitos acreditam que este simples fato, ou seja, está plugado é o suficiente para agregar ao repertório humano, habilidades e outros elementos chaves para seu desenvolvimento na presente era.

Passamos do artesanal tal como o jornal impresso, para as mídias eletrônicas e hoje nos encontramos a todo vapor nas mídias digitais; notem que vivemos em um mundo em constante devir. A não linearidade que mencionei em parágrafos anteriores ainda se faz presente como característica preponderante da cultura digital e na medida que esta e as novas mídias penetram em nossa vida, elas mudam nossa forma de pensar e perceber a realidade. Ou seja, nossa forma de viver hoje também é não linear, as vezes até que tentamos mudar isso, mas a forma como a realidade se apresenta nos obriga na maioria das vezes a viver conforme a realidade se apresenta.

É possível interagir dentro de ambientes simulados, ter a comunicação mediada por computadores, interações são simuladas de forma muito aproximada da vida real, são experiências audíveis, visuais e táteis geradas computacionalmente. Nenhuma tecnologia anterior as atuais haviam invadido tão contundentemente nossa intimidade. Esse é o mundo da internet, o ciberespaço que traz consigo a nova cidadania eletrônica, uma nova forma de relação, oportunidades, pesquisa e competição entre os homens.

sábado, 16 de março de 2019

REFLEXÃO: Escola e Sociedade


Referencias: 
FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade.
SNYDERS, George. Escola, Classe e Lutas de Classes.
FILME: A onda – Link: https://www.youtube.com/watch?v=zG3TfjAhs30
FILME: IF – Link: https://www.youtube.com/watch?v=mufpDXIss5A&t=387s


Avaliar a história da humanidade a partir da formação da sociedade tal como encontra-se hoje, ou seja, tomando com ponto de partida histórico o século 15, fica evidente uma característica marcante na personalidade deste, o egoísmo. O homem mostrou-se um ser com alto potencial de egoísmo, logo permite-me refletir sobre a grande e real necessidade de trabalhar este aspecto de forma contundente com foco em detê-lo na medida em que veementemente insista em percorrer este caminho.

O papel da família, da igreja, da escola e da comunidade como um todo é um elemento determinante para se lograr êxito no combate aos possíveis frutos indigestos proporcionados pelos seres humanos que se deixam levar pelo seu egocentrismo.

A educação ao meu ver ocupa uma posição protagonista no processo de formação cognitiva do indivíduo no contexto de torna-lo um ser civilizado e apto a participar da construção da sociedade tal qual almejamos; é na educação aonde é possível encontrar os elementos chaves e fundamentais para direcionar o indivíduo a plenitude social.

Penso que uma coisa deve estar clara para todos nós sobre o processo educativo do ser humano; há maior probabilidade de se alcançar níveis de excelência ainda não alcançados na medida em que aplicarmos o fator de contribuição coletiva que seja harmônica e sincronizada na ação de cada responsável conforme descrevi no segundo parágrafo desta reflexão, ou seja, não será da família o papel exclusivo de formar o cidadão e o entrega-lo em condições plenas de se sociabilizar coletivamente em sua comunidade, nem da igreja, nem da escola nem por conseguinte da comunidade.

Estes agentes estão de certa forma interligados e naturalmente na medida em que uma falha em algumas das etapas que lhe compete cumprir, o outro agente possivelmente será sobrecarregado e terá trabalho quem sabe além das suas “responsabilidades primárias”, para além de cumprir com o que socialmente lhe é de competência ter que se propor de alguma forma a preencher a lacuna que pelo outro agente outrora não foi de forma excelente cumprida.

Veja, cada um destes agentes de transformação social tem a capacidade de em seu processo educativo, enraizar valores em seus coo-responsabilizados na medida em que aplicam suas formas de influência ao ponto que para que haja uma ruptura junto a estes valores se fará necessário um ato que talvez tenha que lhe custar a própria vida; vale ressaltar que me refiro a valores que consideramos fundamentais e porque não dizer vitais. Valores que consideramos como princípios. Logo, como diz o ditado: “todo cuidado é pouco”; na maioria das vezes o que temos em nossas “mãos”, é o futuro da nação, a perpetuação de uma história e o bem-estar coletivo acima de tudo.

Em linhas gerais, ao que me parece, é na escola aonde se dá a maior parte do tempo da vida humana. Partindo deste pressuposto a humanidade e seus “representantes políticos”, tais como nos moldes que conhecemos hoje, resolveram se apoderar desta fase e espaço de tempo para imprimir seus ideais políticos e concepções de sociedade. Vejam, até onde isso é bom e ao mesmo tempo até onde isso é ruim? Talvez os ciclos históricos de cada nação, povo, sociedade possam falar melhor do que eu.

A reflexão que eu gostaria de abordar na realidade perpassa na forma de como isso se passou, se passa e se passará. Em primeira instancia eu diria que a vida humana do século 15 até os dias de hoje, o século XXI, a famosa era do conhecimento, sempre passou e está passando por processos de mudanças, certo? A vida humana mostrou-se dinâmica, houve progressos em diversas, se não em todas as áreas; claro que mais em algumas do que em outras, mas o fato é que o homem foi progredindo socialmente e a realidade da vida humana foi ganhando novas conotações principalmente no contexto do advento da tecnologia. Desta forma é possível afirmar que é inerente a vida humana a mudança e a possibilidade de progresso. No entanto, ao afirmar esse natural movimento, em minha ótica se faz necessário refletir sobre quais caminhos foram percorridos para se alcançar os possíveis progressos, assim como, o que foi preciso abrir mão para se trilhar os caminhos que nos trouxeram até aqui, nas condições políticas, sociais e culturais na qual nos encontramos.

Seria possível afirmar que algumas ideologias e movimentos não tiveram êxito político e social em sua proposta ideológica pelo simples fato de não terem se apropriado da escola tal como seu instrumento de “implantação”, ou disseminação das suas bases e propósitos? Ou caso tenham se apropriado, não o fizeram de forma que a estratégia escolhida não foi apropriada a época ou ao modelo social estabelecido pelo todo? Será ou seria de fato uma boa e provável alternativa seguir este caminho? Veja, me parece que sim. A escola, o sistema educacional e os atores educacionais, em minha opinião possuem grande relevância no processo de transformação social. Encaro a educação e o processo educativo no ambiente escolar como uma mina de ouro de valor inestimável, deste ambiente é possível mover o mundo, penso que o céu talvez seja o limite para tudo o que emana do ambiente escolar. A força intelectual de um ser humano vai além dos limites territoriais, este quando unido a um coletivo é talvez uma das maiores oposições frente a tudo o que possa querer comprometer o bem-estar geral de uma nação, comunidade ou sociedade global.

Não é à toa que o capital se apodera do processo educativo no ambiente escolar para consolidar suas teses e desejos. É um caminho seguro, inteligente e me parece que sustentável tudo o que se propõe por meio da escola. Na escola de hoje, mais do que nunca se reproduz a formação social do capitalismo, por conseguinte fica cada vez mais evidente a separação de classes e os conflitos instaurados.

Ainda acredito que é também na escola que temos maior probabilidade de corrigir os desajustes sociais que se reproduzem nela, mas que não são essencialmente pertinentes dela. Mas para que isso ocorra talvez seja necessário revisitar os ideais de uma escola, trazer os demais atores (família, igreja e comunidade), para mais próximo dela, e colocar em primeiro e último lugar a civilidade e o bem-estar geral.

sábado, 9 de março de 2019

REFLEXÃO: Modernidade Líquida => Prefácio + Cap. 3 Tempo/Espaço


Livro de: Zygmunt Bauman


Bens duráveis, relações duráveis, realidades duráveis são nos dias de hoje antagônicos ao sentido de prazer, alegria, gozo, felicidade e satisfação. É intolerável aos olhos da sociedade atual a ideia de ter que passar anos, ou quem sabe uma vida com um bem, ou mantendo uma relação afetiva, assim como, viver em uma sociedade sem altos índices de mudanças.

Esperar é sinônimo de tristeza e desprezo, viver o tédio natural da vida é ser ultrapassado, pois “tempo é dinheiro” segundo declarou Isaac Newton. O ócio não pode mais ser criativo, pois o ócio é maçante, sem graça, é uma característica padrão de pessoas ultrapassadas.

Não sabem os mais “adiantadozinhos” que o tédio natural da vida é a base da reflexão e é da reflexão que em grande parte emanam os pensamentos que moveram o mundo no âmbito da ciência, filosofia e da tecnologia. O ócio ainda pode ser criativo, mas se faz necessário ter abertura, abrir a mente, dar-se tempo e sentir a vida em suas mais sublimes facetas impressas nas cenas que vão passando e nos singelos traços refletidos pela natureza.

Sem significado racional a vida não permanece engajada, corremos soltos e individualizados em busca de sermos maiores para parecermos melhores, mas o fim de tudo isso é frustração.

Observe o mundo real, um dia tudo foi muito mais pesado e enraizado, hoje o que um dia foi pesado e fixo, passou a ser leve e móvel, ou seja, o progresso passa pela capacidade de se abrir as novas possibilidades sem necessariamente abandonar os princípios e essências, talvez modifiquemos os formatos, as substancias, mas o que caracteriza valor, não.

É importante identificar os caminhos naturais em que a vida vai se projetando, a tecnologia avança, as formas, as cores, e até mesmo a natureza evoluem, e penso ser interessante que a mentalidade e a forma de se fazer negócios, de empreender e de relacionar-se também evoluam e acompanhem tudo isso, no entanto é preciso ter sensibilidade, é preciso lançar-se ao futuro sem desprezar a leis naturais e lógicas que regem a história. Adaptar-se, moldar-se não são sinônimos de desprezo ao caminho que até aqui nos trouxe, muito pelo contrário, o diálogo entre estes pares talvez seja o ponto de equilíbrio.

Considerando que estamos vivendo na era da instantaneidade, onde tudo precisa e deve ser rápido, imediato, etc., onde a constante inovação substitui tudo e a todos como um rolo compressor, como fica o pensar a longo prazo? Quais ingredientes não podem faltar em uma proposta de projeto de vida pessoal, social ou organizacional?

Nunca a falta de domínio próprio ao ser humano fez tantos estragos quanto na atual era da humanidade; grandes são os níveis de ansiedade que assolam as pessoas, esta que talvez seja uma das ou a doença do século tem feito muitas vítimas em todas as escalas de idade, ela não perdoa crianças nem idosos, não respeita classe nem muito menos gênero. Um dos efeitos avassaladores quando estamos sobre o controle da ansiedade é a ideia de que tudo conspira contra nós, seja a vida natural ou as pessoas, inclusive dentro de nosso próprio convívio familiar, religioso, profissional e etc. A infelicidade, as frustações e as derrotas nunca foram antes tão fundamentadas nos porões da ansiedade. Enfim, se algo está dando errado ou já não saiu como planejado, a culpa é alheia, não de minha.

O mundo está desgovernado, os índices de violência são assustadores, as autoridades militares que foram instituídas para nos proteger tornaram-se o próprio crime; o que se houve corriqueiramente é que o Estado precisa colocar mais policiamento, punir com mais rigor o crime, construir mais presídios, impor pena de morte por crimes graves cometidos, é a famosa política do medo. Será mesmo esta a solução, não haveria um outro caminho menos custoso ao Estado e a sociedade como um todo.

Civilidade é o ideal humano para os que vivem em sociedade, sabemos que o preço é alto a se pagar para se alcançar plenitude civil, mas temos plena consciência que ainda é o caminho mais seguro, mais curto e mais eficaz para combater os desajustes sociais enfrentados pela comunidade global em maior escala nas periferias mundiais. É a única forma de proteção que não distancia as pessoas umas das outras; ainda que sejamos acusados de não sermos nós mesmos quando agimos civilizadamente, penso que seja a melhor maneira de se conviver harmonicamente, pois despir-se dos meus maus hábitos em favor do bem-estar comum é como utilizar uma máscara que possa esconder a minha real condição, mas se é por uma boa causa penso fazer sentido e ser válido.

Os espaços públicos possuem um papel preponderante na homogeneização da sociedade, é neste espaço que as individualidades são postas a prova e é neste momento que as políticas públicas que dão equilíbrio as relações e garantem o direito universal de ir e vir que fazem grande diferença. Sabemos que a coletividade tem um preço, se faz necessário abrir mão de algo que talvez seja importante ou até mesmo inegociável para alguns, no entanto notem que quando é dividimos estamos multiplicando, outros usufruem semelhantemente a nós, já quando não cedemos ou abrimos mão do nosso status quo, limitamos o benefício e o desenvolvimento harmônico da comunidade.

Gostaria de chamar a atenção para um aspecto muito sensível da atual era que vivemos ainda no contexto dos espaços públicos, estou falando dos espaços construídos ou estabelecidos socialmente como lugares de compras, consumo, lugares aonde se exerce uma falsa liberdade. As mentes consumistas encontram nestes espaços o seu deleite, em outros casos se derrama toda uma semana, mês, ano ou vida de frustrações quando pelo simples ato de consumir se garante um falso sentimento de libertação e realização. Para alguns há conforto pelo simples fato de sentissem aceitos em uma comunidade ou grupo por ter exercido o direito de comprar o objeto tão desejado que serve de símbolo de pertencimento a tais grupos.

De toda forma, fica o grande dilema das relações, a todo tempo somos desafiados a optar por nos relacionarmos uns com os outros abraçando-nos, respeitando-nos e juntos nos movendo ou nos omitindo física e emocionalmente da realidade alheia. E o ambiente aonde tudo isso ocorre é o ambiente público, aonde o viver urbano ocorre em suas diversas formas. Não é muito difícil hoje em dia estar em lugares sem ser notado, ao mesmo tempo que também não é impossível não notar as pessoas ou a realidade, vale o esforço para tornar as experiências autenticas quando prestamos sentido a cada momento independente do lugar.

A coisa mais comum nos grandes centros hoje em dia é desenvolver um mapa mental limitado ao roteiro de uma vida cotidiana, isso pode desenvolver um comportamento indiferente na sociedade em geral, tanto aos que vivem em ambientes mais desenvolvidos, assim como, os que vivem em ambientes mais precários de infraestrutura. A palavra que gostaria de utilizar neste contexto é “esforço”, todos devem esforçar-se na direção de ampliar os horizontes de convivência, tudo é válido, praticar assistência social, atividades religiosas, educativas, dentre outras, quando se trata de criar vínculos e encurtar distancias física e emocional. Não somos estrangeiros, somos cidadãos de um país global, de uma aldeia.

Não existe um mundo perfeito, aonde tudo funciona de forma harmônica e sincronicamente perfeito, as relações são entre pessoas e não entre coisas, logo é mais do que natural que haja divergências ideológicas e multiplicidade de comportamento. A modernidade nos desafia a todo tempo, a sermos seres coletivos, diferentes nas ideias, mas homogêneos nas decisões. Estamos construindo uma história que servirá de referência para as gerações futuras e a cada tempo perdido com decisões individualistas que mais nos separa do que nos une, mais tempo perderá a geração futura para construir uma história de progresso linear.

Quando se trata de seres humanos, vale a pena gastar tempo, vale a pena tocar a alma e sentir a essência da vida, é preciso abdicar das ideias mercadológicas quando o assunto é gente. A maior conquista na era da informação talvez seja a quantidade de diferença que iremos fazer na vida das pessoas e não os territórios que iremos “conquistar”. Quando se trata da vida humana, nada é perca de tempo, cada minuto investido no exercício da cidadania é um fator determinante na melhoria da trajetória da sociedade.

A época em que quantidade de bens e conquistas territoriais eram sinônimos de grandeza e superioridade ficou para trás, como disse, o mundo é um país, a multinacionais não encontram mais fronteiras, o capital transita livre e olhar apenas para o próprio umbigo hoje é projetar um futuro trágico sócio economicamente, o mundo está assim, a realidade é essa, vivemos na era do “face to face”.