terça-feira, 16 de abril de 2019

REFLEXÃO: Convergência




Fonte: SANTAELLA, Lucia. Comunicação ubíqua, repercussões na cultura e na educação. São Paulo, Paulus, 2013. Cap. 11



A transição da “realidade social analógica” para a “realidade social digital”, impõe alguns desafios aos atores desse contexto, tais como absorver e adaptar-se a essa nova realidade de maneira tal que não sejamos e não nos sintamos ultrapassados nesta nova ordem mundial.

Tudo passou a sofrer influência das tecnologias digitais, saúde, segurança, trabalho, educação, etc.; ainda há aspectos que podem ser considerados “analógicos” no cotidiano da humanidade, mas é cada vez mais evidente uma forte convergência para uma realidade cada vez mais digital. Acredito que ambas as realidades conviverão juntos por muito tempo, no entanto sou levado a pensar com base em algumas experiências pessoais, de que nos dias de hoje é impossível atuar em uma das áreas mencionadas acima, apenas dominando os padrões analógicos humanizados, pois muito das burocracias e processos destas áreas são hoje operadas via um elemento digital.

A ideia de emancipação do sujeito no contexto analógico não necessariamente se aplica ao contexto da realidade digital. A convergência de uma realidade para a outra impôs algumas mudanças naturais a este conceito e processo, é como se o cidadão politicamente emancipado de 30 anos atrás tivesse que correr atrás para se adaptar e agregar novas formas de atuar na era das tecnologias digitais para manter-se emancipado, pois na medida em que a maior parte das relações sociais se dá sob a influência desta se faz necessário estar inserido para exercer sua influência e ter voz ativa politicamente.

O ponto de reflexão que gostaria de levantar é a respeito dos limites e reais necessidades de convergir junto com a realidade social, ou seja, até onde se faz necessário acompanhar este processo, o que é saudável e ao mesmo tempo emancipador ou não. É uma questão de ser feliz, de necessidade ou de ambos aspectos? Há algumas contradições, aposto que se eu perguntasse para meu avô Gabriel Cassiano(falecido de morte natural aos 102 anos no ano de 2016) no auge dos seu 95 anos de idade, o que ele achava de portar um celular todas as vezes em que se deslocasse para a mata montado em sua mula para tocar suas atividades agrárias, a fim de que a nossa familia pudesse localiza-lo com maior facilidade caso houvesse alguma acidente, ele certamente diria que essa ideia era uma tremenda de bobagem, pois um sertanejo não precisa dessas invenções dos mais jovens que vivem na cidade grande. Para ele o conceito de felicidade e necessidade se resumia ao seu território agrícola, rodeado dos seus “companheiros” (gado, cabra, ovelha, cavalo, mula, galinhas, pássaros, etc.,), da familia e da comida típica da região. É uma forma simples e básica de tocar a vida, porém bastante provocadora para nós que vivemos na cidade grande emergidos na realidade social digitalizada.

É interessante notar que ao lado do pedaço de terra que meu avô possuía, havia uma familia que tinha trocado a mula, o cavalo e o jumento pela motocicleta, segundo eles esta era uma forma mais eficaz de tocar o gado ao final do dia quando o sol se punha, assim como, uma forma mais rápida de ir até a cidade para resolver demandas pessoais de diversas ordens. Notadamente aqui temos um contraste em praticamente o mesmo espaço, dividido apenas por uns cerca de 7 arames. Isso nos faz refletir o quão é relativo algumas questões que giram em torno do bem-estar humano, o que para alguns é uma necessidade, uma questão de sobrevivência, para outros não passa de “uma invenção do homem da cidade”, que não tem mínima influencia em seu padrão de vida e nem muito menos em seu projeto de vida futuro.

Enfim, considerando as devidas realidades, cabe a nós ponderar a real necessidade de adaptação e inserção dos elementos digitais em nossa realidade pessoal em qualquer área em que estejamos inseridos em um determinado momento da vida. É importante entender que uma coisa não necessariamente suprime a outra e que haverá momentos em que a depender das circunstâncias teremos que está plenamente engajado na “realidade digital” e ou na “realidade analógica”, e em outros momentos teremos que estar transitando em ambas simultaneamente, penso que tudo vai depender das nossas prioridades estabelecidas para o momento presente.

4 comentários:

  1. É verdade que um contexto não anula o outro, assim como hoje vivemos simultaneamente em ambos. É aquilo que chamamos de hibridismo. Já a convergência é um outro conceito, que é próprio do digital, pois só esta forma de registro traduz tudo num mesmo código (0 e 1), possibilitando agregar o que antes era considerado completamente diferenciado.

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  2. Glauber, fiquei aqui pensando até quando se sustentará esse formato analógico do tempo de nossos avós....sei que ainda temos alguns rincões com o formato em questão, mas a cada dia o formato digital se impõe. Será que eles conviverão por muito tempo? Para pensarmos...

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