Fonte: SANTAELLA, Lucia. Comunicação ubíqua, repercussões na cultura e na educação. São Paulo, Paulus, 2013. Cap. 11
A transição da “realidade social
analógica” para a “realidade social digital”, impõe alguns desafios aos atores
desse contexto, tais como absorver e adaptar-se a essa nova realidade de
maneira tal que não sejamos e não nos sintamos ultrapassados nesta nova ordem
mundial.
Tudo passou a sofrer influência das
tecnologias digitais, saúde, segurança, trabalho, educação, etc.; ainda há
aspectos que podem ser considerados “analógicos” no cotidiano da humanidade,
mas é cada vez mais evidente uma forte convergência para uma realidade cada vez
mais digital. Acredito que ambas as realidades conviverão juntos por muito
tempo, no entanto sou levado a pensar com base em algumas experiências
pessoais, de que nos dias de hoje é impossível atuar em uma das áreas
mencionadas acima, apenas dominando os padrões analógicos humanizados, pois
muito das burocracias e processos destas áreas são hoje operadas via um
elemento digital.
A ideia de emancipação do sujeito
no contexto analógico não necessariamente se aplica ao contexto da realidade
digital. A convergência de uma realidade para a outra impôs algumas mudanças
naturais a este conceito e processo, é como se o cidadão politicamente
emancipado de 30 anos atrás tivesse que correr atrás para se adaptar e agregar
novas formas de atuar na era das tecnologias digitais para manter-se
emancipado, pois na medida em que a maior parte das relações sociais se dá sob
a influência desta se faz necessário estar inserido para exercer sua influência
e ter voz ativa politicamente.
O ponto de reflexão que gostaria de
levantar é a respeito dos limites e reais necessidades de convergir junto com a
realidade social, ou seja, até onde se faz necessário acompanhar este processo,
o que é saudável e ao mesmo tempo emancipador ou não. É uma questão de ser
feliz, de necessidade ou de ambos aspectos? Há algumas contradições, aposto que
se eu perguntasse para meu avô Gabriel Cassiano(falecido de morte natural aos
102 anos no ano de 2016) no auge dos seu 95 anos de idade, o que ele achava de
portar um celular todas as vezes em que se deslocasse para a mata montado em
sua mula para tocar suas atividades agrárias, a fim de que a nossa familia
pudesse localiza-lo com maior facilidade caso houvesse alguma acidente, ele
certamente diria que essa ideia era uma tremenda de bobagem, pois um sertanejo
não precisa dessas invenções dos mais jovens que vivem na cidade grande. Para
ele o conceito de felicidade e necessidade se resumia ao seu território
agrícola, rodeado dos seus “companheiros” (gado, cabra, ovelha, cavalo, mula,
galinhas, pássaros, etc.,), da familia e da comida típica da região. É uma
forma simples e básica de tocar a vida, porém bastante provocadora para nós que
vivemos na cidade grande emergidos na realidade social digitalizada.
É interessante notar que ao lado do
pedaço de terra que meu avô possuía, havia uma familia que tinha trocado a
mula, o cavalo e o jumento pela motocicleta, segundo eles esta era uma forma
mais eficaz de tocar o gado ao final do dia quando o sol se punha, assim como,
uma forma mais rápida de ir até a cidade para resolver demandas pessoais de
diversas ordens. Notadamente aqui temos um contraste em praticamente o mesmo
espaço, dividido apenas por uns cerca de 7 arames. Isso nos faz refletir o quão
é relativo algumas questões que giram em torno do bem-estar humano, o que para
alguns é uma necessidade, uma questão de sobrevivência, para outros não passa
de “uma invenção do homem da cidade”, que não tem mínima influencia em seu
padrão de vida e nem muito menos em seu projeto de vida futuro.

É verdade que um contexto não anula o outro, assim como hoje vivemos simultaneamente em ambos. É aquilo que chamamos de hibridismo. Já a convergência é um outro conceito, que é próprio do digital, pois só esta forma de registro traduz tudo num mesmo código (0 e 1), possibilitando agregar o que antes era considerado completamente diferenciado.
ResponderExcluirExcelente!!!
ExcluirGlauber, fiquei aqui pensando até quando se sustentará esse formato analógico do tempo de nossos avós....sei que ainda temos alguns rincões com o formato em questão, mas a cada dia o formato digital se impõe. Será que eles conviverão por muito tempo? Para pensarmos...
ResponderExcluirMuito boa percepção... vale a reflexão!!!
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